sábado, 2 de julho de 2011

Pelo direito de ficar só...


É madrugada... As luzes do prédio em frente foram, pouco a pouco, se apagando, até que restou tão somente a luz fria deste computador, se refletindo na janela de uma rua adormecida. E se cria o encanto... e  na  quietude mágica me deixo levar pela delícia que é estar só. Nenhum som, além do silêncio, e das teclas que acompanham o ritmo de meus pensamentos... Nenhum telefone tocando - ninguém há de vir me buscar neste momento;  nenhuma alma caridosa há de  me tirar da solidão, ou me salvar de mim mesma... 
Estive o dia inteiro me esquivando de convites para sair, preocupada em inventar desculpas tipo: tenho que trabalhar, minha mãe precisa de mim, ou então aquela que nunca falha: sabe o que é? Conheci alguém... Vamos nos ver... (principalmente se  o convite partir de uma daquelas amigas fissuradas por encontros).
Dá licença!!! Passei a semana  correndo, engolindo um café e um sanduíche,  atendendo cliente, brigando com aquele código java que travava o computador a todo instante, respondendo centenas de e-mails, ouvindo o drama da amiga que brigou com o namorado, e rezando para que chegasse o fim-de-semana — (e que chovesse, pois assim poderia descansar). E  quando, finalmente, ele chega, esperado  presente  pelo qual suspirei tanto, tenho que dividi-lo? Não mesmo!!!
Não consigo compreender esta compulsão coletiva por andar na rua. Ter que sair. Ter que ir a algum lugar pra não assinar atestado de solidão. E quem disse que solidão é ruim? Quem disse que ficar só, vez por outra, dói? Ah, sei quem foi! Quem não gosta de sua própria companhia!
A tendência agora são os pelotões de salvamento dos que vivem só. Salve fulana de si mesma, coitadinha, sozinha em casa (e fulana está lá, degustando um bom vinho, ouvindo Vivaldi e lendo um livro gostosérrimo, recostada em suas almofadas prediletas e curtindo a vida numa boa) - mas, afinal, fulana deve ser doida, imagina, ficar em casa numa noite de sábado?
Pois é, mas isto é só para quem pode. Para quem se sente feliz entre aquilo que lhe é importante e para quem vive bem consigo mesmo. Porque só quando se está bem é que estar só é uma benção.
No mergulho que faço para dentro de mim mesma, saio enriquecida sempre. Aprendo-me. Descubro-me e me reinvento a cada momento. Exploro territórios desconhecidos e traço rotas diferentes para aqueles que já conheço. E fico em paz. Na  deliciosa companhia da pessoa mais importante do mundo para mim: eu mesma.
Caminho até a sacada, e faço um brinde silencioso ao vizinho da janela em frente que, a meu exemplo, festeja uma noite em sua própria companhia. 

Abençoados sejam, os solitários por opção.


Maytê


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Personare

Seguidores