sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ontem chorei...


... Por tudo que fomos. 
Por tudo o que não conseguimos ser. 
Por tudo que se perdeu. 
Por termos nos perdido. 
Pelo que queríamos que fosse e não foi. 
Pela renúncia. 
Por valores não dados. 
Por erros cometidos. 
Acertos não comemorados. 
Palavras dissipadas.
Versos brancos. 
Chorei pela guerra cotidiana. 
Pelas tentativas de sobrevivência. 
Pelos apelos de paz não atendidos. 
Pelo amor derramado. 
Pelo amor ofendido e aprisionado. 
Pelo amor perdido. 
Pelo respeito empoeirado em cima da estante. 
Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. 
Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. 
Pela culpa. 
Toda a culpa. 
Minha. 
Sua. 
Nossa culpa. 
Por tudo que foi e voou. 
E não volta mais, pois que hoje já é outro dia. 
Chorei.


Caio Fernando Abreu


Silêncio...


Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir – nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

Clarice Lispector


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sentindo o amor x Vivendo o relacionamento...


Tenho lido muito sobre o amor, aqui, ali e acolá...
Sempre pensei muito sobre o amor, aqui ali e acolá. 
Vivo muito o amor aqui, nunca ali ou acolá, por isso penso o amor. 
Amor é amor.
Relacionamento é relacionamento.

Acontece que o amor toma forma externa é dentro de um relacionamento, por isso é comumente vítima da confusão:  relacionamento é chamado de amor.
Na minha forma de conceber, o amor e o relacionamento são coisas bem distintas, mesmo existindo juntas. Com isso acho que todos concordam. Então porque sempre se fala de relacionamentos usando a palavra amor?

Penso que o amor é nosso, está em nós, é a parte divina que nos habita, não chega com o outro e não vai embora com ele. Mas é a chegada do outro que nos propicia demonstrar como amamos ou quanto temos de amor ou de falta de amor, em nós.
O que realmente surge com a chegada do outro é o relacionamento, que nasce com aquele que nos faz querer demonstrar todo amor que nos habita. Entregamos ao outro o mesmo amor que sempre foi nosso, que nos faz amar a vida, que nos faz acreditar e sorrir pro mundo. 

Relacionamento é construção, é o lapidar das quinas e bordas dos que se encontraram e reconheceram em si os encaixes. Fazer estes encaixes por vezes dói, é preciso lixar, aparar, moldar. Hora ou outra as bordas tão desejosas de si mesmas, se desencaixam, novo esforço, cortes, pressões e apertos para se dar novo encaixe que, mais adiante tornará a se desfazer. Isso é uma relação se construindo ou destruindo depende do peso que tem os encaixes e os desencaixes na relação.

Quando leio descrições de amor que sofre, que se molda, se encaixa, se apara, sinto estarem falando de relacionamento amoroso, não de amor. Precisou de entendimento e esforço é relacionamento não é amor, mesmo que seja um relacionamento regado a amor.
Relacionamentos são construídos e podem morrer. O amor já nasce pronto e nunca morre, apenas muda de casa.

O amor continua vivo em nós apto a ressurgir a qualquer momento que o acordarem.O amor é grande e mínimo ao mesmo tempo.O amor ocupa todos os imensos espaços e cabe em todos os minúsculos lugares. O amor não precisa de ajustes, aparas, encaixes. O amor tem formato certo pra tudo.
O amor se encaixa em tudo.

Van


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Eu quero sempre mais...


Vivo sempre em busca de uma força além daquela que me habita, assim como busco (sem cessar) um prazer maior do que todos aqueles que eu já conheci.
Quero poder acordar com total leveza e sorver todo o romantismo de se ter pétalas vermelhas chovendo para mim e em mim. Quero, na manhã seguinte, ser acordada de forma diferente, inovadora, como poder sentir pingos de velas perfumadas percorrendo ousadamente o meu corpo e que não queimariam mais do que eu sinto agora.
Quero novos prazeres, novas posições, novos desafios, novos anseios, novos eus confraternizando-se em mim, sem dúvidas, sem brigas, sem egoísmo. Quero, enfim, mais do que tudo, uma nudez (plena) combinada com a minha, feito tela e moldura, o dois que vira um, só não me esquecendo de que é essencial de que ambos, ao mesmo tempo, saibam conservar a essência e o valor, sem um ao outro querer se impor. 

By Flor


Wedding Tickers

Desarmada e perigosa...


Hoje acordei assim meio camaleoa, contraditória, toda feita de antíteses, contando não há quem acredite! Só não sei ainda do que sou capaz e até onde posso ir se o medo der uma trégua... umazinha apenas... mesmo que num breve instante. Desarmada, aparentemente inofensiva, mas lasciva e altamente perigosa! Por via das dúvidas, nem de casa acho que sairei. Tentarei deixar que meu lado puro e puto dialoguem, duelem, para descobrir quem acordará mais vivo amanhã...

By Flor



Wedding Tickers

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Eu assumo o controle agora!


Não exija coisa alguma de mim, pois não terá retorno algum que não seja aquele que me convir. Não lhe dou (e me dou) nada que não seja por livre e espontânea vontade. Pois, por trás dessa imagem translúcida refletida numa vidraça de onde ao fundo me observa e condena, você não passa disso: uma sombra sem rosto que me sorveu tudo o que pôde, se apossando das minhas verdades para dar forma as suas palavras sem voz própria. Eu assumo o controle agora!

By Flor


Wedding Tickers

Desapego...


"O melhor exemplo de DESAPEGO vem das abelhas. Após construírem a colméia abandonam-na. E não a deixa morta em ruínas, mas viva e repleta de alimento. Todo mel que fabricaram além do que necessitavam é deixado. Batem asas para a próxima morada sem olhar para trás. Num ato incomum abandonam tudo o que levaram a vida para construir. Simplesmente o soltam sem preocupação. Deixam o melhor que têm, seja pra quem for - o que é muito diferente de doar o que não tem valor ou dirigir a doação para alguém de nossa preferência. Se queremos ser livres, parar de sofrer pelo que temos e pelo que não temos, devemos abrigar um único desejo: o de nos transformar. Assim, quando alguém ou algo tem de sair de nossa vida, não alimentamos a ilusão da perda. Sofrimento vem da fixação a algo ou a alguém. Apego embaça o que deveria estar claro. Por trás de uma pretensa perda está o ensinamento de que algo melhor para nosso crescimento precisa entrar. Se não abrirmos mão do velho, como pode haver espaço para o novo?"


Autoria Desconhecida


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Refazendo escolhas...


A minha intensidade não pode continuar servindo de tripé para tanta agonia. Preciso pontuar as histórias, delimitar certos espaços, dissolver conflitos, definir minhas relações e preservar um resto de sanidade que há em mim. Nunca fui misteriosa, mas expor minhas vísceras na luz mais nítida do dia têm me feito contorcer de desprazer. A imagem que tenho é a de uma ponte interrompida que desistiu de promover encontros e transformou a metade do caminho de uma possibilidade de relacionamento, num precipício inda mais perigoso, composto por abismo e correnteza. (O estalo seco de um tombo anterior ainda ecoa). E a ressaca de tantos mal-entendidos me empurram pruma nova busca. Vou silenciar um pouco enquanto refaço o mapa do meu destino e elimino definitivamente essa geometria de triângulos que só serviram pra me espetar com suas pontas tão agudas. Talvez eu consiga seguir mais lúcida e tornar a falta de embriaguez suportável. Quero precisar cada vez menos de tantas próteses e do uso dessa desculpa da poesia que brota daquilo que mais dói em nós. Vou abrir a janela para que o ar circule e recicle toda essa energia estagnada. Não preciso mais de tanto contato com as coisas, tenho exagerado nos meus mergulhos e usado lupas que distorcem as imagens. Agora eu só quero me preocupar com uma nova disposição dos móveis na casa enquanto ponho as roupas sujas na máquina de lavar.

*
(sus)penso em passos de (mu)dança.

*

Marla de Queiroz

Vazio...


Sei que não sou mais o que fui ontem. Tenho em mim um vazio imensurável, uma tristeza oca, um peso que me prende ao chão e não me deixa seguir em frente. A única opção que me resta é sentar e abraçar meu próprio corpo, fechar-me em uma redoma de pele e pêlos. Deixar que o tempo passe, o mundo gire e as coisas aconteçam, acostumando-me novamente à solidão. Um estar só que vai além da falta de presença alheia, é a ausência de tudo. Os sentimentos, que um dia fizeram de mim quem fui, extinguem-se diante dos meus olhos. Espero-me nestes dias de clausura, autoconhecimento e auto-suficiência. Espero por mais amores passageiros, sem nenhum significado, que de nada merecem tal denominação. Espero por quantos mais anos forem necessários até que consiga aprender a lidar com a força do que guardo em mim. Choro ao escrever essas poucas e mal traçadas linhas. Choro e de repente descubro que o que hoje está oco, ainda reclama a ausência daquilo que o preenchia.

By Flor



Wedding Tickers

domingo, 25 de setembro de 2011

Sobre resgates...



Não aprendi a empinar pipas, mas a empilhar frases. E tive que me familiarizar com desmoronamentos. Por isso, procuro palavras regeneradas que façam algum traço de cor no céu. Eu não aprendi a desenhar fatos novos, mas a restaurar letras encontradas em entulhos e paisagens adoecidas pelo tempo. Às vezes, entre os destroços, eu descubro paradoxos como um mar de águas-vivas mortas. Às vezes, entre os escombros, eu recupero uma alegria virando pelo avesso a tristeza empoeirada. Um dia, eu reconstruí um poema apenas com os detritos de uma flor. E ressuscitei uma metáfora que estava dentro de uma frase irrecuperável...

Minha poesia nada mais é do que a tentativa de resgatar
essas emoções soterradas.
*
*
*
Marla de Queiroz


sábado, 24 de setembro de 2011

Calmarias e Tormentas...


Todo dia acordo repleta de certezas, que reafirmam-se ou se esvaem ao sabor das horas. Nem todas me angustiam. Gosto da idéia da mudança, do movimento, da surpresa. Mas quase sempre tenho algum momento de desconforto diante delas. Tenho uma natureza certinha, mas uma alma inquieta a provocar deliberadamente que se abra a janelinha que leva ao outro lado do muro.
Não almejo o perigo, gosto da ausência de sustos, do que é seguro. Não quero saber do que vai acontecer no futuro. Mas surpreender-me é sempre um prazer. Quero um mundo cor de rosa, mas não abro mão da paleta de cores para pintar sem limites. E ousar, mesmo quando minha vida e minha alma me dizem não.

By Flor


Wedding Tickers

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Querer ser...



Sou a matéria prima da minha existência
É de mim que são feitos os meus muros e as minhas barreiras
É das minhas mãos que saem as construções seguras e inseguras
Sou eu o copo e a taça onde me alimento e que te posso estender
E como toda a matéria vim do pó e a ele regressarei
E entretanto sou remodelável em mil paisagens, mil realidades
Basta querer... ser melhor,... crescer,.... viver...


Why ask why por Leo Kottke


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Apenas...



Na bicicleta, junto à brisa que beija o rosto, desfaço a pressa de chegar.
O destino final é o que menos importa, hoje eu quero apenas o contemplativo do caminho. Apenas o pedalar. Apenas o passeio. Apenas o carinho do Criador versejando que, leveza é manter o coração pacificado diante do peso das adversidades...


Patrícia Costa


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Desviando...


"Quando a estrada fica interrompida,
o desvio pode ser interessante..." 

Martha Medeiros


Simples assim...


Dor independe de inúmeras desculpas para inaugurar mágoas. Dói muito, muito antes de nos imaginarmos fora dela. Ela precisa sim é de um laço disposto e uma enorme vontade - nossa - de estar feliz dentro da própria escolha. Eu sei, nunca estou muito bem equipada para a dor. Seria muito triste se ela conhecesse todas as minhas manhas. Então ando assim: desprovida e desarmada. E me protejo quando posso. Afinal de contas, não é necessário tanto choro assim pra compor um novo riso.
Dor sabe pouco da gente. Mal sabe aprender novos jeitos de trocar caminhos e não chegar. Só chega, lateja e passa. É, passa. Dor é moça que não sabe ficar, que só saber dar lugar e entregar os pontos, entende? 

Felicidade independe de inúmeras circunstâncias para inaugurar recomeços. E eu sou uma mulher de muitos inícios. Então, se nublo, floresço – porque é o que eu faço de mais bonito. 


 Priscila Rôde


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

...




Eu não sei citar motivos, mas alguma coisa me falta. Estou ao mesmo tempo feliz e deprimida, tenho companhia e nunca fui tão sozinha, tenho sucesso e nunca me senti tão fracassada.


Autoria Desconhecida


domingo, 18 de setembro de 2011

Ventos meus...



Não, eu não sou fácil. Não sou hábil em mentir. Não sei mentir o que me pulsa. Não gosto de sentir complicado, não gosto de me vestir inocente, sou vermelho malícia, não fictícia, a porta da frente, não casa de fundos. Eu não sou violável, poço de regras, exceção tolerável talvez. Minha verdade é na retina que guardo. Os meus sons são esses, é o universo que escuta. Minha música é me escrever. O que tateio é vento. E apenas pra lembrar: todas as minhas formas são mutáveis.

Autor Desconhecido


sábado, 17 de setembro de 2011

Minha fé...



Minha fé anda de braços dados com o bom senso,
Creio na proteção divina é claro, 
mas olho para os dois lados antes de atravessar a rua.


Pe Fábio de Melo




sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O amor...


O amor nunca morre de morte natural. 
Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. 
Morre de cegueira e dos erros e das traições... 
Morre de doença e das feridas; 
Morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho...

Anais Nin


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Do que importa...


Tem dia em que eu acordo e, de verdade, pouco importam as minhas dificuldades, sejam elas até já desgastadas pelo tempo, sejam elas viçosas, recentemente inauguradas, tudo me parece perfeito. Tudo é como pode ser agora, eu estou onde consigo estar, o tempo das coisas é o tempo das coisas, e isso vale também para cada pessoa que compartilha a sala de aula comigo.
Tem dia em que eu acordo e faço contato com uma gentileza tão linda que desconhece essa história de acertos e erros, sejam meus ou alheios, viver é trabalhoso e todo mundo se atrapalha, de um jeito ou de outros. Toda gente só precisa de consciência, cura e amor. Toda gente só quer ser feliz. Não há motivo para pressa e também não há estagnação, eu permito que a vida possa simplesmente fluir, sem tentar, em vão, amarrar ou alterar o jeito de dizer das suas ondas.
Este sentimento pode durar poucos quarteirões do dia, um monte deles, até mesmo só alguns centímetros de passo, enquanto dura é absoluto. E eu me sinto feliz e grata por tudo, vejo amor, mestria, chance de aprendizado, em cada ínfima coisa que me acontece. Ainda que chova, e às vezes chove muito, a memória da ternura luminosa e imutável do sol faz eu lembrar da natureza preciosa da vida. O sol não vai a lugar nenhum, ele fica exatamente onde está, mas a nuvem, a chuva, sempre passam.
Tem dia em que eu acordo lindeza e coloco bobagem pra dormir porque a nítida prioridade é a harmonia do meu coração, o contentamento natural capaz de me nutrir, proteger e me ajudar a seguir. Este sentimento pode durar poucos quarteirões do dia, um monte deles, até mesmo só alguns centímetros de passo, enquanto dura é lembrança da realidade divina perene que é sol por trás da temporária nuvem, da temporária chuva, que possam molhar os olhos da personagem. Enquanto dura é alegria e descanso e eu lembro do que, de verdade, me importa.

Ana Jácomo


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Enquanto o amor não passa...

      
É a lembrança o que mais causa aflição. O afeto perdido, os arrependimentos, o que poderia ter sido e não foi. As interrogações desencontradas de que se suportássemos mais nossos defeitos, a crise passaria sem maiores danos. Tanta incompreensão falta de tato. Tanta  impaciência!
     O tempo passa e a cabeça esfria. Vem a constatação do que era tão bonito se falássemos mais e brigássemos menos. De que  a possessividade poderia ter sido mais trabalhada sem ser deixada de lado (pois ninguém é de ferro), mas que fosse tratada de uma maneira mais natural e não causasse estragos irremediáveis. Mortais. Tudo isso aliado ao tempo que mostra a face da felicidade apenas quando ela já passou por nós, deixando a sua marca: a nostalgia.
    Enquanto o amor não passa e os rumos dos nossos passos são diferentes, todos os erros são catalogados. Mas já não há mais conserto. O tempo não volta. A lista dos defeitos apenas se alonga e o remorso na consignação do erro é fulminante. É voraz como o pecado mortal. Porém, é nessa hora que recordamos também as qualidades e, a saudade é maior que o bom senso por alguns poucos e bons momentos.
    Achamos outros parceiros e as comparações são inevitáveis.  Nenhum está a contento para a substituição irrestrita. Um gesto, uma atitude, um acalanto...tudo tão difícil. A memória vira uma câmera de fotografia. Registra com todas as cores a ação do passado, num sem querer querendo, inconsciente...pois era  um outro modelo fotográfico. E lastimamos, sem consolo, no silêncio da nossa hipocrisia.
   Enquanto o amor não passa, somos escravos da própria alma desesperada. Ela nos chicoteia, nos aponta. É o mais cruel dos nossos carrascos. A inquisitora mais verdadeira. É o espelho mais terrível de se mirar por inteiro porque nele vemos nossas piores mazelas.
   Enquanto o amor não passa há uma luta insana entre a razão e a emoção. Ficamos zonzos,   olhando para os lados, porque o mundo inteiro  torna-se canceroso  e para as nossas doenças  o único lenitivo já foi embora há muito tempo. Escapou. Passou.
    Enquanto o amor não passa, outro também não vem. E o tempo nos desrespeita  carregando grandes momentos. Muitos desperdícios.
    Enquanto o amor não passa é melhor o recolhimento. A solidão. Talvez assim possamos entender integralmente o que houve e digerir nossos pedaços, grão por grão, lágrima por lágrima, num banquete solitário cujo único convidado é o nosso coração. 
   Enquanto o amor não passa... não ouça, não fale. Tão somente sinta  saudade. Um dia, ela também passa.

Cláudia Villela de Andrade


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Diário de Mágoas...


"E esta ternura,
meu Deus,
essa minha ternura inútil,
desaproveitada."
(Mário Quintana)
 
Guardado num velho baú, esquecido atrás da porta da sala de jantar, remexendo em papéis amarelados pelos anos, encontrei antigo diário.
Durante longo período da minha vida foi o confidente mais fiel. Nele armazenava minhas dores e mágoas. Estranha sensação essa de rever caminhos que já trilhamos.
A vida é então cumprir tarefas. Marido, filho, casa, emprego. Aparentemente nada que preocupasse... Aparentemente...
Havia um vulcão que soltava fumaça anunciando em breve uma erupção. O ar se fazia rarefeito. Havia uma ternura armazenada pedindo para ser usada e não encontrava endereço certo.
Havia uma paixão além dos previsíveis momentos e gestos a que meu corpo já acostumara. Havia uma voz que chamava para além dos limites de muros e correntes que me prendiam.
Queria o desconhecido e inseguro e havia o medo e lágrimas que ficaram marcadas nas páginas do diário. Parece-me sem sentido ter sufocado tanto tempo sentimentos e vontades, no entanto, a segurança de uma vidinha pacata e opaca é capaz de iludir.
Abandonar a praia e jogar-se num mar bravio pode custar caro e não arriscamos um provável naufrágio até que algo ou alguém nos tire do rumo.  Mágoas e ressentimentos se esvaziam nas possibilidades da liberdade e de renascer inteira, integra.
Recomeçar...
Amadurecer dói e assusta corações incautos.

Isar Maria Silveira


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pra não doer...


Complicado e estranho demais não saber. Não saber onde estão fitados seus olhos, onde estão entrelaçados seus abraços. Qual acorde modula aquela frequência eu-você: nós. E onde ainda aquieta seu corpo, seus suspiros. Gotas de suor exaladas na pele, nos poros na sua alma-em-mim. Arquiteto sonhos e futuros e me alimento, em silêncio, desse instante de um tão perene e ligeiro sim.
Complicado e estranho demais não entender. Não entender em que parte dos teus olhos estão os meus horizontes, onde estão suas esperas. Qual tempo pousa aquela tua presença no meu agora, aquela frequência eu-você: o mundo. Penduro esse laço de poesia nos dedos enquanto andamos com pequenos passos de encontro, enquanto o apesar não pesa tanto, enquanto o minuto perdura doce.
E penso, quando eu – quem sabe? – estiver pronta e atenta. Quando o coração decifrar a distância que existe entre a coragem e a ausência, o nosso perto estará enfim junto e dentro? Por conta disso ando pisando em plumas no ar, desviando minha atenção em outras coisas, pra não ficar pensando, pra não sofrer por antecipação, pra não doer.
Mas o dia sempre termina nele.


Fernanda Fraga & Priscila Rôde


domingo, 11 de setembro de 2011

Desistir ainda que não pareça, foi meu gesto de coragem...


Nutro o meu instante com esse silêncio simples e derradeiro. E carrego no abraço uma vontade tímida. Um querer menos afoito. Mais decidido. Livre. Mesmo sabendo que tudo passa, que o amanhã sempre acorda mais contente e que todos os meios findarão naquele recomeçar bonito, desenrolo essa escolha muito antes do cedo. Uma mulher sabe entender possíveis sinais e placas de aviso quando precisa acreditar, continuar, filtrar arrepios.
Eu gosto mesmo é do sumo das coisas. De caminhar com quem demora no tempo. Quero perder a noção de tudo e ter somente a noção de quem segue em frente, apesar de. Estou me encaixando. Me curando desse acordo que fiz comigo: me colocar sempre disposta e atenta ainda que no fim, algum pouco de mim não fique inteiro. 
Estou grávida de uma desistência. Preciso (par)ir. As minhas tentativas estão de saída. Mas voltam.


Priscila Rôde


sábado, 10 de setembro de 2011

Cabe o que for amor...


Agora cabe é a poesia nas verdades intimidadas
Cabe tudo o que é pleno.
Sol no rosto, beijo cálido.
Felicidade pertinho, junto, bem-dentro.
Cabe agora brisas aleatórias,
Janelas abertas, limpeza de alma.
O laço de fita enfeitando suas mãos.
Cabe, cantigas, prosas e o doce-de-leite
O verso confessado
O amanhã a completar no seu agora.
Cabe os verbos e seus pronomes.
O meu infinito a preencher todo seu espaço.
Agora não cabe, as paixões.
Os venenos destrutivos, aqueles passageiros.
Agora cabe o que veio pra ficar.
Cabe o que for Amor.

Fernanda Fraga


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