terça-feira, 30 de agosto de 2011

Amar dói...



Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para 
o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira.


Tati Bernardi


segunda-feira, 29 de agosto de 2011



O inimigo de um amor nunca vem de fora, 
não é homem ou mulher,
 é o que falta em nós mesmos!

Anais Nin


domingo, 28 de agosto de 2011

Eu escolho...




Eu escolho
um homem
que não duvide
de minha coragem
que não
me acredite
inocente
que tenha
a coragem
de me tratar como
uma mulher.


Anais Nin


sábado, 27 de agosto de 2011



Amor não é se envolver com a pessoa perfeita,
aquela dos nossos sonhos.
Não existem príncipes nem princesas.
Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos.
O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.


Autoria desconhecida



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ninguém pode...



Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida.
- ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva?
Não perguntes, segue-o!


Friedrich Nietzsche


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Inteira...



"(...) Eu sou da teoria que precisamos de alguém que já venha inteiro. Porque a pessoa que vem inteira sabe respeitar espaços, a pessoa que se sente completa aceita que você não é igual, e principalmente, a pessoa que aprendeu a totalidade sozinha sabe que dividir algo com você não implica em nenhuma perda para ela. Acredito que a troca no relacionamento só é completa quando cada um é inteiramente proprietário das suas ações. E que não é a metade da laranja que faz você ser completo, mas as lições que você aprende durante sua incompletude. Essas sim serão imprescindíveis e farão você dividir completamente tudo que existe dentro de você."


Fernanda Ganoa


Coração Partido...



A dor no coração é boa
Aceite-a com alegria, permita-a, não a reprima.

A tendência natural da mente é reprimir tudo o que seja doloroso. Mas, ao reprimi-lo, você destruirá algo que estava crescendo.

O coração é feito para ser partido. Seu propósito é este: ele deveria se dissolver em lágrimas e desaparecer.

O coração é para evaporar, e, quando ele evapora, exatamente no mesmo lugar onde ele estava você virá a conhecer o coração real.

Esse coração precisa ser partido. Uma vez despedaçado, subitamente você virá a conhecer um coração mais profundo.

É como uma cebola: você a descasca, e uma nova camada estará presente.

OSHO


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Somente com alegria..



“Cada hora, cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo! 
Esta vida é de cabeça-pra-baixo, ninguém pode medir suas perdas
e colheitas. O que é que uma pessoa é, assim por detrás dos buracos
dos ouvidos e dos olhos? Um bom entendedor, num bando,
faz muita necessidade. Somente com a alegria é que a gente realiza
bem - mesmo até as tristes ações.


João Guimarães Rosa


Preciso de coisas boas...



Me mande mentalmente coisas boas. 
Estou tendo uns dias difíceis, mas nada, nada de grave. 
Dias escuros sem sorrisos, sem risadas de verdade. 
Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir.

Caio F. Abreu


segunda-feira, 22 de agosto de 2011



"Tem dor que vira companhia. Olhando de perto, faz tempo que deixou de doer, só tem fama, mas a gente não solta. Quem sabe, pelo receio de não saber o que fazer com o espaço, às vezes grande, que ficará desocupado se ela sair de cena. Vazio é também terreno fértil para novos florescimentos, mas costuma causar um medo inacreditável."


Ana Jácomo




"Mas ainda é possível ouvir estrelas.
Deixar que nossa luz nos oriente.
Ainda podemos rir como se a alegria fosse nosso melhor adereço.
Acredito que pés descalços é o luxo da alma.
Que estar perto é menos físico que a gente pensa.
Que olhos falam, palavras estragam, e silêncio grita.
Que a gente quer amar pra sempre, abrir o peito, recitar poema, sem se preocupar com o que os outros pensam.
Sei que o que mais vale a pena é chamado de coisa pequena, que vira importante quando a gente deixa de achar que é grande."


Renata Fagundes


Sons...



Eu poderia ter gritado mais alto, mas nem sempre o desespero exige a palavra ou o tom grave que agride os sonhos que dão adeus. As malas cheias de roupas e decepções. Por que nenhuma salvação a tempo? Por que nenhum gesto voluntário de desculpa? Aí se foram as canções que Chico nos cantava pela manhã, aí se foram os sons dos nossos movimentos pela casa, aí se foram as melodias que o vento criava em nossa janela, aí o bipe da campainha começou a desafinar, aí tudo que tinha sintonia e harmonia já não mais existia. E na despedida se conhece um novo som, de significado e que ecoa: as portas batendo em tom de nunca mais.



Cáh Morandi


domingo, 21 de agosto de 2011


"O passar do tempo é inexorável, e a lei da gravidade, incontestável. 
Que pena, por um lado, que bom por outro: a flacidez namora o equilíbrio da maturidade".



Já chovi muito.
Já escorri lágrima que deveria estar bem escondida, dentro do peito.
Tem hora que lágrima só atrapalha. Tem hora que o mal tempo de nada nos conforta.
Só nos prende em casa, nos faz ver da janela o dia cinzento passar.

...e chove,
e chovendo vai a chuva, molhando.

Michelle Trevisani


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Estrela do meu céu...



Te vista de tua melhor personagem: ela é única, exclusiva, insubstituível em qualquer palco, mas este é o de maior esplendor. Ele se firma não abaixo das luzes da ribalta, mas sob o olhar admirado da Lua - amante dos poetas - e das estrelas, público brilhante!

Represente teu melhor papel, pois tua personagem será o mais real de todos que já expressou. Ao abrir das cortinas, que contemplem tua face feito o Sol que nasce no horizonte sem fim. Quando as cortinas se fecharem, desejarão que fique ali sempre, pois o palco é teu lugar! Ouvirá o brado suplicando 'bis' ecoando tua recompensa, tua satisfação, tua realização!

Que teus movimentos sejam suaves levando teus espectadores a uma dança, como o Mar que acompanha as ondas. Que tua expressão seja verdadeira, assim como verdadeiro é o pulsar de todos aqueles corações. Que tua voz seja a flecha poética acertando em cheio os vácuos largos nos vazios interiores. Mas que haja força, gana e paixão em cada ato.

Sedutora é... Envolva em teu véu invisível e hipnótico cada um deles... Traga-os até teu mundo... Esta tua dimensão paralela onde o céu não precisa ser azul, nem macieiras precisam parir maçãs - lançam cobiça. Serão tantos olhos sobre você, mas olhe-os lá no mais profundo que possa conseguir... Jorre para dentro deles feito uma cascata em constante queda. Os olhos - o abismo – te lança em queda... Deixe pensarem que falas com eles e não com teu coadjuvante... Faça-os levitar para teu palco iluminado de penumbra sossegada, transporte-os para teu cenário surreal e faça-os sonhar...

Teu palco é teu mundo! Nele tu és deusa fértil de idéias inconcebíveis e surreais! Manifeste então tua glória, sendo no céu negro de cada um ali, Estrela Alva! Arranque-lhes suspiros, gemidos e todas as sensações adormecidas. Traga-os de volta a Vida!

Ao fim do espetáculo, perceberás que ao vestir-se de tua melhor personagem, estarás acima de todas e que revelou tantas outras que habitam teu corpo expressivo... Perceberá que ali, neste palco tão seu e só seu, foi você mesma revelando não suas facetas, mas todas as mulheres que habitam teu ser!

@shimadacoelho


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Adeus...



Vou embora porque é de idas que é feito o amor frouxo, 
E é com voz flácida que é feito o adeus que eu nunca quero dizer, mas sempre digo... 
E só pra que não fiques sem resposta, deixo o adeus pregado ali: do lado de fora da tua porta.

Marla de Queiroz


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Minha frase hoje!



Mateus diz:
"É quando você pensa na pessoa... Fica com os olhos cheios de água...
Só um pouquinho e lá dentro, na parte interna do queixo, embaixo do lábio dentro da boca, vem um sabor de sal...
Como se a boca chorasse..."

Entendi...


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Fortalecida pela dor...



Emudeço nos momentos em que guardo as lembranças com o máximo pudor. São lembranças ainda bem nítidas em minha mente. Fatos passados induzidos pelo presente, como se eles emanassem os nossos segredos. O mundo pouco se interessa pelo que se passa em nossa vida.  Espio no espelho e me vejo frágil. Mesmo assim, ele ousa decifrar minhas emoções. Tento expulsar esta mágoa recente para amenizar minha dor. Procuro ignorar este sofrimento! O escuro acalma os meus conflitos, que driblo entre lágrimas contidas. Suspiro na tentativa de camuflar minha tempestade interior.


“Escondo esta dose de irritação que me invade/ um certo desconforto me incomoda /Meu desejo,/ É quase uma agonia!” 


Tudo neste instante se torna quase impossível! Decidir o rumo que se deve tomar é muito difícil! Conheço minha incapacidade de tomar decisões. Suspirei e avaliei o que pretendia. Minha sensatez teria que ser justa. Decidi acabar com toda essa festa dentro de mim e que fiz crescer com a minha imaginação. Preferi romper com tudo antes do final do jogo. Esperei as palavras que não se construíram. Desvirginei a minha vergonha e decidi colocar um ponto final nesse sentimento, machucante e desgastante.


Fui rápida. Estava fortalecida pela dor. Abreviei as palavras para sofrer menos, o que não impediu de machucar meus sentimentos. Penetrei com a confiança dos sábios, fitei nos olhos e derramei toda minha magoa... Em segundo, disse o que me veio à cabeça.


 Aquele porte de homem requintado, baixou os olhos num ato de covardia. Nada disse, simplesmente aceitou. Até quando aquele instante simbolizaria um amor perdido? Onde estava eu, que não enxerguei este momento! Este era um saldo negativo em minha vida!


O silêncio eloqüente repetia as palavras ditas em um só fôlego. Não fazia sentido mencioná-las, novamente. Para quê? Era somente uma foto fora de foco...


“Basta-me o êxtase da noite.../Seduzindo a lua./Olho para Ela e fito-a/ Com a impulsividade do antes.” 

Rosa Cruz


Buraco de Solidão...



Um buraco no meio do peito...
É a sensação que a solidão deixa desse jeito...
Pode ter pessoas por todos os lados...
Mas coração chora, sem saber por que está magoado...
Um vazio sem saber de onde vem...
Talvez seja a falta da outra metade de alguém...
Tristeza, solidão, vazio... abraços todos vem...
Dê qual lugar, a razão, o motivo... certeza ninguém tem...
Solidão faz seu mundo sem carinho...
E faz coração, chorar baixinho...

Sueli Rosa


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lição de casa...



" Você tampa a panela, dobra o avental, deixa a lágrima secar no arame do varal. Fecha a agenda, adia o problema, atrasa a encomenda, guarda insucessos no fundo da gaveta. A idéia é tirar a tarja preta e pôr o dedo onde se tem medo. Você vai perceber que a gente é que faz o monstro crescer. Em seguida superar o obstáculo, pois pode-se estar perdendo um espetáculo acontecendo do outro lado. Atravessar o escuro até conseguir tatear o muro, que é o limite da claridade. Se tiver capacidade para conquistá-la, tente retê-la o mais que puder. Há que ter habilidade, sem esquecer que a luz é mulher. Do inferno assim desmascarado, é hora de voltar. Não importa se é caminho complicado, se a curva é reta, ou se a reta entorta. Você buscou seu brilho, voltou completa; jogou a tranca fora, abriu a porta. "

Flora Figueiredo



domingo, 14 de agosto de 2011



Sinto que,
 ao cruzar a cancela,
não estarei entrando em nenhum lugar,
 mas saindo de todos os outros...

Chico Buarque



“Esperas.
 É isso que a estrada traz.
E são as esperas que fazem envelhecer.”

Mia Couto



Talvez eu precisasse é dos silêncios.

Lya Luft


Não desisti,
apenas não insito mais.

Cazuza

sábado, 13 de agosto de 2011

Do que passa...



Eu poderia ter escutado melhor o silêncio enquanto você passava e calava sob mim. Poderia ter repousado sim, mais vezes, os meus dedos nos teus olhos. Ter dado dois passos e encostado meu ombro no teu choro. Eu poderia. Poderia ter virado o lado do rosto, acolhido a sua dúvida, alongado a noite. Poderia e iria entender o teu mundo até quando houvesse um nós brindando possibilidades.

Eu poderia ter levado o meu meio com a gente até o fim. Ter sido só começo, ali, na orla do seu amanhã que ainda tem a mesma cara de hoje e de sempre. Dosado as palavras, adoçado a poesia ao teu modo e encanto, eu poderia. Ter olhado no momento certo em que você também olhava pra si. Ter sentado, esperado, amanhecido. Ter cantado a minha vontade novamente mesmo depois de ter esquecido a letra.

E não sei se você entende, se você sente que eu ando complicando demais minhas escolhas, que de tão inusitadas e bobas, me fazem de qualquer coisa. Então acabo leve. Breve. E carrego no rosto um sorriso quase derradeiro. Deixando passar, duro só o bastante. E aquele instante que poderia ter parado ali pra todo mundo ver, fica atrás de mim, longe de tudo.

Acho que é por isso que alguns encontros vivem partindo. É que às vezes custa muito agarrar um caminho no colo e decorar todos os tetos de sonhos quando o agora não tem a intenção de morar.

Priscila Rôde

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Com o coração...



Hoje eu não quero conversas vestidas de uniforme. Diálogos impecavelmente arrumados que não deixam o coração à mostra. As palavras podem sair de casa sem maquiagem. Podem surgir com os cabelos desalinhados, livres de roupas que as apertem, como se tivessem acabado de acordar. Dispensa-se tons acadêmicos, defesas de tese, regras para impressionar o interlocutor. O único requinte deve ser o sentimento. É desnecessário tentar entender qualquer coisa. Tentar solucionar qualquer problema. Buscar salvamento para o quer que seja.
Hoje eu não quero falar sobre o quanto o mundo está doente. Sobre como está difícil a gente viver. Sobre as milhares de coisas que causam câncer. Sobre as previsões de catástrofes que vão dizimar a humanidade. Sobre o quanto o ser humano pode ser também perverso, corrupto, tirano e outras feiúras. Sobre os detalhes das ações violentas noticiadas nos jornais. Não quero o blablablá encharcado de negatividade que grande parte das vezes não faz outra coisa além de nos encher de mais medo. Não quero falar sobre a hipocrisia que prevalece, sob vários disfarces, em tantos lugares. Hoje, não. Hoje, não dá. Não me interessam o disse-que-disse, os julgamentos, a investigação psicológica da vida alheia, os achismos sobre as motivações que fazem as pessoas agirem assim ou assado, o dedo na ferida.

Hoje eu não quero aquelas conversas contraídas pelo receio de não se ter assunto. A aflição de não se saber o que fazer se ele, de repente, acabar. O esforço de se falar qualquer coisa para que a nossa quietude não seja interpretada como indiferença. Hoje eu não quero aquelas conversas que muitas vezes acontecem somente para preenchermos o tempo. Para tentarmos calar a boca do silêncio. Para fugirmos da ameaça de entrar em contato com um monte de coisas que o nosso coração tem pra dizer. Além do necessário, hoje não quero falar só por falar nem ouvir só por ouvir. Que a fala e a escuta possam ser um encontro. Um passeio que se faz junto. Um tempo em que uma vida se mostra para a outra, com total relaxamento, sem se preocupar se aquilo que é mostrado agrada ou não. Se aumenta ou diminui os índices de audiência.

Hoje, se quiser, se puder, se souber, me fala de você. Da essência vestida com essa roupa de gente com a qual você se apresenta. Fala dos seus amores, tanto faz se estão perto do seu corpo ou somente do seu coração. Fala sobre as coisas que costumam fazer você sintonizar a frequência do seu riso mais gostoso. Fala sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam. Fala a partir daquilo em você que não desaprendeu o caminho das delícias. Do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em você que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta sobre as receitas que lhe dão água na boca. Sobre o que gosta de fazer para se divertir. Conta se você reza antes de adormecer.

Hoje, me fala de você. Dos momentos em que a vida lhe doeu tanto que você achou que não iria aguentar. Fala das músicas que compõem a sua trilha sonora. Dos poemas que você poderia ter escrito, de tanto que traduzem a sua alma. Senta perto de mim e mesmo que estejamos rodeados por buzinas, gente apressada, perigos iminentes, faz de conta que a gente está conversando no quintal de casa, descascando uma laranja, os pés descalços, sem nenhum compromisso chato à nossa espera. A gente já brincou tanto de faz-de-conta quando era criança, onde foi que a gente esqueceu como se chega a esse lugar de inocência? Fala da lua que você admirou outra noite dessas, no céu. Da borboleta que lhe chamou à atenção por tanta beleza, abraçada a alguma flor, como se existisse apenas aquele abraço. Diz se quando você acorda ainda ouve passarinhos, mesmo que não possa identificar de onde vem o canto. Diz se a sua mãe cantava para fazer você dormir.

Senta perto e me conta o que você sentiu quando viu o mar pela primeira vez e o que sente quando olha pra ele, tantas vezes depois. Se tinha jardim na casa da sua infância, me diz que flores riam por lá. Conta há quanto tempo não vê uma joaninha. Se tinha algum apelido na escola. Se consegue se imaginar bem velhinho. Fala da sua família, a de origem ou a que formou. Das pessoas que não têm o seu sobrenome, mas são familiares pra sua alma. Fala de quem passou pela sua vida e nem sabe o quanto foi importante. Daqueles que sabem e você nem consegue dizer o tamanho que têm de verdade. Fala daquele animal de estimação que deitava junto aos seus pés, solidário, quando você estava triste. Diz o que vai ser bacana encontrar quando, bem lá na frente, olhar para o caminho que fez no mundo, em retrospectiva.

Podemos falar abobrinhas, desde que sejam temperadas com riso, esse tempero que faz tanto bem. A gente pode rir dos tombos que você levou na rua e daqueles que levou na vida, dos quais a gente somente consegue rir muito depois, quando consegue. A gente pode rir das suas maluquices românticas. Das maiores encrencas que já arrumou. Das ciladas que armaram para você e, antes de entender que eram ciladas, chegou até a agradecer por elas. De quando descobriu como são feitos os bebês. A gente pode rir dos cárceres onde se prendeu e levou um tempo imenso pra descobrir que as chaves estavam com você o tempo todo. Das vezes em que se sentiu completamente nu diante de um Maracanã, tamanha vergonha, como se todos os olhos do mundo estivessem voltados na sua direção. Das mentiras que contou e acreditaram com facilidade. Das verdades que disse e ninguém levou a sério.

Não precisa ter pauta, seguir roteiro, deixa a conversa acontecer de improviso, uma lembrança puxando a outra pela mão, mas conta de você e deixa eu lhe contar de mim. Dessas coisas. De outras parecidas. Ouve também com os olhos. Escuta o que eu digo quando nem digo nada: a boca é o que menos fala no corpo. Não antecipe as minhas palavras. Não se impaciente com o meu tempo de dizer. Não me pergunte coisas que vão fazer a minha razão se arrumar toda para responder. Uma conversa sem vaidade, ninguém quer saber qual história é a mais feliz ou a mais desditosa.
Hoje eu quero conversar com um amigo pra falar também sobre as coisas bacanas da vida. As miudezas dela. A grandeza dela. A roda-gigante que ela é, mesmo quando a gente vive como se estivesse convencido de que ela é trem-fantasma o tempo inteiro. Um amigo pra falar de coisas sensíveis. Do quanto o ser humano pode ser também bondoso, honesto, afetuoso, divertido e outras belezas. Dos lugares onde nossos olhos já pousaram e daqueles onde pousam agora. Um amigo para conversar horas adentro, com leveza, de coisas muito simples, como a gente já fez mais amiúde e parece ter desaprendido como faz. Um amigo para se conversar com o coração.
E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.

Ana Jácomo



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Talvez...



... Talvez a verdadeira intimidade eu só tenha buscado com as palavras. E eu me entupi delas no momento em que poderia estar aprendendo alguma coisa com alguém. Talvez eu aprenda a ser mais silenciosa; a usar palavras menos aflitas, a falar mais com o olhar. Porque me entupindo de palavras eu me defendo cuspindo-as em alguém que tente uma aproximação.
Faço um muro de palavras entre mim e as pessoas. Sou autoexplicativa só pra confundir.
Talvez eu tenha nascido para uma vida desapaixonada e culta. Talvez eu nunca tenha olhado verdadeiramente o outro; e só tenha visto o texto pronto que criei acreditando nele. Talvez eu não conheça o que julgava ter acesso cognitivo. E isso me entupiu de certezas que eu não soube abandonar ao longo do caminho.Uso palavras para não sofrer, para plagiar uma dor, pra fingir que sou leve e que está tudo bem. Uso palavras pra falar de uma chuva que talvez eu não conheça porque não me permiti ficar encharcada dela. E ela virou a metáfora de um relacionamento_ o que pode ser tristemente poético.
Talvez eu só tenha sentido saudade pra falar de outras coisas. Pra usar a palavra "saudade" mesmo, que eu adoro. Acho que estou muito cansada. Falei demais das coisas e, no entanto, não toquei verdadeiramente em nada. Observei e descrevi, cheia de filtros semânticos. Dentro da minha limitação eu interpretei o Universo para que eu coubesse nele, em mim. E alienei as pessoas dentro de conceitos. E arranjei um sentimento pra cada coisa. E pensei que assim, tudo estaria em ordem, sob controle.Eu que me julgava não julgadora, me considerava livre, agora tendo que empurrar as grades dessa prisão de certezas que criei pra mim. Sem poder culpar ninguém. Usando um discurso de alguém que não quer magoar o outro pra descobrir que no fundo só me importei comigo mesma e com os meus medos. Não deixei que o outro experimentasse o que havia de melhor ou de pior em mim. Não deixei que ele escolhesse.
Mantive o muro de palavras e o meu discurso pronto pra continuar a salvo do outro lado. Eu que sempre falei de pontes...
Talvez eu seja uma farsa. Talvez eu seja virtualmente inacessível. Alguém que se entope de adjetivos pra entender as coisas e dizer que não se preocupa em entender nada. Eu que sempre falei de amor, não amei o outro em toda a dimensão da pessoa que ele é. Talvez eu tenha me preocupado mais com as vírgulas que não usei nas cartas de amor que escrevi que com as pessoas que as receberam e que se julgaram amadas. Talvez eu só tenha dançado pra fingir que gostava de música. Talvez eu só tenha bebido pra fazer parte de um círculo social. Talvez eu só tenha aceitado certas coisas pra poder ser chamada de amiga e usei levianamente a palavra amizade.
Talvez eu tenha me apaixonado diversas vezes pra fazer parte do círculo de pessoas que sorriem diferente porque estão amando e sofri as carências que intercalam as paixões como se fossem reais. Talvez eu tenha rompido relações pra escrever cartas de despedida e mostrar como eu dominava a dor ao escrevê-la. Talvez eu só tenha experimentado as relações dentro da literatura.
Acho que estou realmente cansada. Falei demais sobre tudo e continuo no escuro. E a minha recusa em tocar nas coisas me impede de sair tateando em direção à luz. E mais uma vez eu uso palavras pra tentar me defender de algo, de mim.
Talvez eu precise parar de ler Clarice Lispector... Talvez eu devesse escrever uma carta em branco pra dizer que quero silenciar: que se o silêncio ainda estiver esperando por mim, eu aceito. Preciso esquecer as palavras, preciso me despedir delas para começar a experimentar a vida com honestidade. Talvez silenciando eu consiga ser mais honesta com você. Eu que precisei escrever tanto pra dizer isto: que preciso silenciar.
Talvez eu só tenha escrito isso tudo pra conseguir chorar... E usar a palavra "talvez" pode ser o início do abandono de tantas certezas; o início do uso mais corriqueiro da frase “eu não sei".
Talvez isso seja um começo de alguma coisa;
Talvez isso seja um fim.
Talvez sejam apenas hormônios do período menstrual...
Mas isso tudo se parece muito com tristeza...
EU NÃO SEI.


Marla de Queiroz 


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O homem ausente...



Desde o início dos tempos o homem é considerado “o chefe da família”, o provedor, aquele de quem se espera a segurança, o suprimento, o porto seguro. Claro que os tempos mudaram, que hoje as mulheres assumiram (ou tentam) seu papel de igualdade, sua postura e sua independência.
Acontece que essa trajetória é muito lenta, gradativa, iniciada pelas categorias sociais de nível de escolaridade dita “superior”.
Nas classes mais baixas e nas bem mais altas, as mulheres ainda se sujeitam a atitudes de passividade, ou apenas de “ajudantes” no orçamento doméstico. Ficam satisfeitas com a condição de “donas de casa” e “mães”, como se isso fosse uma profissão. No fundo, se entregam a árduas tarefas de agradar e garantir um lar aconchegante e receptivo para o “homem da casa”.
Tudo bem, nada a opor, se isso for uma decisão de comum acordo, porém, na maioria das vezes, isso implica numa ausência quase que constante desse homem do seu lar.
Com o custo de vida cada vez mais difícil de administrar, o orçamento ficar apenas nas mãos de um só numa família por vezes numerosa, implica em aumento do número de horas ausente do lar, em muitas delas para tentar um “bico” para garantir sustento dos seus.
Aí, esse homem batalhador, forte, determinado, fica cansado, carente, sem disposição para discutir assuntos pertinentes à sua própria família. Ele quer mais é comer, dormir, relaxar. E chega em casa e encontra a esposa ansiosa por carinhos, por atenção, por se sentir amada. Encontra os filhos querendo mostrar o que fizeram na escola, o que já sabem, o quanto estão progredindo. E ele quer assistir àquele jogo de futebol, ou ver aquele filme que esperou a semana toda, bebendo sua cervejinha, ou um café gostoso e fresquinho. Mal se aconchega, o sono vem, independente de sua vontade.
E ele perde olhares, insinuações, o calor do corpo amado, dias de sacrifícios para que ela se mostrasse mais magra e desejável. Perde a visão da lingerie nova, do novo corte de cabelo, da nova cor do esmalte. Perde a sensação dos lençóis perfumados com alfazema, a maciez da pele hidratada com creminhos, a lassidão daquele vulcão a ponto de entrar em erupção.
Curioso é que ele passa o dia desejando essas coisas, que observa nas mulheres com quem trabalha ou que repara pelas ruas. Ele as vê, as mede, as compara. Sempre chega à conclusão que nenhuma substituiria a sua, a escolhida, mas a elas ele mostra o homem sensual, o amante ardente, o bem-humorado executivo ou liberal, ou funcionário, sempre disposto a escutar ou a dar uma opinião e conselho útil.
Então, por que não quando chega em casa?
Por que não se guardar e mostrar àquela eleita que o espera em brasa no lar?
Por que não compartilhar das alegrias e decepções que a vida se nos impõe?
Talvez a resposta não esteja nele, e sim nela.
Talvez ela não seja essa maravilha preparada para o amor que desfiei em tantas linhas.
Talvez ela não tenha percebido que, embora ela se canse tanto ou mais que ele no trabalho doméstico, ela esteve ali, poupada das competições, aporrinhações, pressões que o trabalho proporciona. Ela estava em casa, na companhia dos filhos, preparando o lar.
Talvez ela tenha esquecido a sensualidade, a maneira de se aproximar, de se insinuar, de se mostrar com desejos, de tomar a iniciativa, de ser criativa, de esperá-lo de forma especial, envolta em véus de mistério e paixão.
A menos que não haja interesse pela manutenção do casamento, ambos deveriam tomar cuidado com essa ausência. Há sempre o risco de se acostumar com a ausência e se buscar locupletá-la em outros endereços, tanto para um quanto para outro (e que eles não se enganem, achando que a santinha do lar não tem tesão).
Cabe a ambos mudarem a rotina do descaso, atraírem um ao outro, como nos velhos tempos. E aquelas antigas fórmulas ainda valem, como mandar as crianças para a casa dos avós ou tios, dar folga a empregada, preparar jantar à luz de velas, com música e decoração especiais. Flores fora de hora, bilhetinhos apaixonados e (pq não?) obscenos, estrear novas peças íntimas (ambos), usar um perfume sensual, preparar o leito daquele jeito...
Não há receita para acabar com a solidão a dois. E nem sempre a cama é resposta aos problemas. Nesse caso, uma conversa franca, com esclarecimento dos pontos, quem sabe?  Não acredito muito nessas conversas cara a cara, pq já se vive a situação de longa data, quando a solidão começa a pesar. Portanto, tratemos de dar vazão aos caprichos do amor e do sexo, e assumir uma posição de companheiros, de cúmplices e de amantes.
O homem ausente só é realmente ausente se sua companheira não estiver presente, dividindo com ele as tensões, as responsabilidades e a cama.
E atenção, homens ausentes!  Essa mulher só se fará presente e sedutora, se estiver feliz em sua condição de mulher e parceira, se sentir que seu espaço é dividido igualmente, se perceber que ainda é sua amada e única na “selva escura e desvairada, para viver um grande amor” (como bem o disse Vinícius de Moraes.


Lilian Maial


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Só dê ouvidos a quem te ama...




Só dê ouvidos a quem te ama. Outras opiniões, se não fundamentadas no amor, podem representar perigo. 
Tem gente que vive dando palpite na vida dos outros. O faz porque não é capaz de viver bem a sua própria vida. É especialista em receitas mágicas de felicidade, de realização, mas quando precisa fazer a receita dar certo na sua própria história, fracassa.
Tem gente que gosta de fazer a vida alheia a pauta principal de seus assuntos. Tem solução para todos os problemas da humanidade, menos para os seus. Dá conselhos, propõe soluções, articula, multiplica, subtrai, faz de tudo para que o outro faça o que ele quer.
Só dê ouvidos a quem te ama, repito. Cuidado com as acusações de quem não te conhece. Não coloque sua atenção em frases que te acusam injustamente. Há muitos que vão feridos pela vida porque não souberam esquecer os insultos maldosos. Prenderam a atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.
Há muitos que carregam o fardo permanente da irrealização porque não se tornaram capazes de esquecer a palavra maldita, o insulto agressor. Por isso repito: só dê ouvidos a quem te ama. Não se ocupe demais com as opiniões de pessoas estranhas. Só a cumplicidade e conhecimento mútuo pode autorizar alguém a dizer alguma coisa a respeito do outro.
Ando pensando no poder das palavras. Há palavras que bendizem, outras que maldizem. Descubro cada vez mais que Jesus era especialista em palavras benditas. Quero ser também. Além de bendizer com a palavra, Ele também era capaz de fazer esquecer a palavra que amaldiçoou. Evangelizar consiste em fazer o outro esquecer o que nele não presta, e que a palavra maldita insiste em lembrar.
Quero viver para fazer esquecer... Queira também. Nem sempre eu consigo, mas eu não desisto. Não desista também. Há mais beleza em construir que destruir.
Repito: só dê ouvidos a quem te ama. Tudo mais é palavra perdida, sem alvo e sem motivo santo.
Só mais uma coisa. Não te preocupes tanto com o que acham de ti. Quem geralmente acha não achou nem sabe ver a beleza dos avessos que nem sempre tu revelas.
O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito.


Padre Fábio de Melo



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