domingo, 28 de fevereiro de 2010

Balada das Dez Bailarinas do Cassino ...



"Dez bailarinas deslizam por um chão de espelho.
Têm corpos egípcios com placas douradas,pálpebras azuis e dedos vermelhos.
Levantam véus brancos, de ingênuos aromas,e dobram amarelos joelhos.
Andam as dez bailarinas sem voz, em redor das mesas.
Há mãos sobre facas, dentes sobre flores e com os charutos toldam as luzes acesas.
Entre a música e a dança escorre uma sedosa escada de vileza.
As dez bailarinas avançam como gafanhotos perdidos.
Avançam, recuam, na sala compacta,empurrando olhares e arranhando o ruído.
Tão nuas se sentem que já vão cobertas de imaginários, chorosos vestidos.
A dez bailarinas escondem nos cílios verdes as pupilas.
Em seus quadris fosforescentes,passa uma faixa de morte tranqüila.
Como quem leva para a terra um filho morto,levam seu próprio corpo, que baila e cintila.
Os homens gordos olham com um tédio enorme as dez bailarinas tão frias.
Pobres serpentes sem luxúria,que são crianças, durante o dia.
Dez anjos anêmicos, de axilas profundas,embalsamados de melancolia.
Vão perpassando como dez múmias,as bailarinas fatigadas.
Ramo de nardos inclinando flores azuis, brancas, verdes, douradas.
Dez mães chorariam, se vissem as bailarinas de mãos dadas."



Cecília Meireles

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ninguém merece ser sozinho



"O seu coração sabe disso, porque certamente já experimentou o amargo sabor da solidão. É no encontro com o outro que o eu se afirma e se constrói existencialmente. O outro é o espelho onde o eu se solidifica, se preenche, se encontra e se fortalece para ser o que é. O processo contrário também é verdadeiro, pois nem sempre as pessoas se encontram a partir desta responsabilidade que deveria perpassar as relações humanas.
Você, em sua pouca idade, vive um dos momentos mais belos da vida. Você está experimentando o ponto alto dos relacionamentos humanos, porque a juventude nos possibilita ensaiar o futuro no exercício do presente. Já me explico. Tudo o que você vive hoje será muito importante e determinante para a sua forma de ser amanhã. Neste momento da vida, você tem a possibilidade de estabelecer vínculos muito diversificados. Família, amigos, grupos de objetivos diversos, namorados e namoradas. Principalmente esses últimos, que não são poucos. Namora-se muito nos dias de hoje, porque as relações humanas estão cada vez mais instáveis e, por isso, menos duradouras. Parece que o amor eterno está em crise. Que o seu amor não seja único! Quando paramos para pensar um pouco, chegamos à conclusão de que o problema está justamente na forma como estabelecemos os nossos relacionamentos. O grande problema é que geralmente investimos todas as nossas cartas naquela pessoa nova que chegou. Ela passa a centralizar a nossa vida, consumindo nosso tempo, nossos afetos, nossos pensamentos e nossas energias. Tudo passa a convergir para ela e, com isso, vamos reduzindo o nosso círculo de relações. O outro vai tomando tanto nossa atenção que, aos poucos, até mesmo a família vai sendo esquecida. Porém, quando esquecemos de cultivar estes vínculos que até então faziam parte de nós, vamos criando lacunas afetivas dentro do nosso coração. É nesse momento que a confusão acontece, pois todas as necessidades começam a ser preenchidas pela pessoa enamorada. Com o passar do tempo, ela começa a carregar um fardo muito pesado, pois passou a exercer a função de pai, mãe, irmão e amigo, quando na verdade ela é apenas um namorado, ou namorada. Cada forma de amor no seu lugar! Essa relação começará ser muito pesada para ambos. Será fortemente marcada pela dependência, pelas cobranças e pelo ciúme. Ambos passam a viver uma insegurança muito grande, pois nunca sabem ao certo o papel que exercem na vida um do outro. O amor deixa de ser amor e passa a ser sentimento de posse, como se o outro fosse uma propriedade adquirida, pronta para atender todos nossos desejos. Quando o coração humano identifica esse sentimento de posse, ele tende a se esconder de si mesmo e, conseqüentemente, dos outros. Teme que alguém venha quebrar o encanto, mostrando que não existe nenhuma história de amor e que ambos viraram sapos. E, o pior, acorrentados. Mas a mudança é sempre possível. Só é preciso que sejamos honestos. Se por acaso você se identificou com esta possessiva e conturbada forma de amar, vale à pena buscar uma ajuda. Comece a canalizar melhor os seus afetos. Não os direcione a uma única pessoa. Tenha amigos, cultive-os. Redescubra sua casa, seus pais, seus irmãos, mesmo que existam problemas entre vocês. Deixe aflorar os afetos que ficaram adormecidos dentro de você. Não coloque sobre a pessoa que você diz amar a responsabilidade de ser o centro do seu mundo, nem se sinta deixado de lado o dia em que ela disser que não vai lhe ver, porque precisa ficar com a família. É que existem momentos que o colo da mãe é muito mais necessário do que o seu. É duro de ouvir isso? Pois é, muito mais duro é não compreender!"


Pe. Fábio de Melo

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Eu, modo de usar...



"Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir.
Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar.
Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro.
Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza.
Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir,mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo,cultivando este tipo de herança de seus pais.
Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto,um albergue da juventude.Eu saio em conta, você não gastará muito comigo.
Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada.
(Então fique comigo quando eu chorar, combinado?).
Seja mais forte que eu e menos altruísta!
Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços,gosto de pernas e muito de pescoço.
Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade.
Leia, escolha seus próprios livros, releia-os.
Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida,não de boate que isto é coisa de gente triste.
Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca...
Goste de música e de sexo, goste de um esporte não muito banal.
Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... Isso a gente vê depois... Se calhar...
Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora.
Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres,tenha amigos e digam muitas bobagens juntos.
Não me conte seus segredos... Me faça massagem nas costas.
Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções.
Me rapte!
Se nada disso funcionar...
Experimente me amar !!!"


Martha Medeiros

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Mistérios...


"Não morro de amores por pessoas sem mistérios.
Quando se é muito transparente, muito risonho e educado, é raro ser levado a sério.
Prefiro os mais silenciosos, os que abrem a boca de menos, os mais serenos e mais perigosos, aqueles que ninguém define e que sempre analisam os fatos por um novo enfoque;
Prefiro os que têm estoque aos que deixam tudo á mostra na vitrine."


Martha Medeiros

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