domingo, 31 de julho de 2011

Felicidade...


A sua FELICIDADE não é a minha, e a minha não é a de ninguém.
Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e no que ela é capaz de desfazer para manter-se sã.
Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só se permitirmos.

Martha Medeiros

sábado, 30 de julho de 2011

Sábado...


“Sábado é sempre sábado, igual em Paris, Porto Alegre ou Cingapura. Sempre no ar aquela expectativa — pizza, cinema ou beijo, não importa.”


Caio Fernando de Abreu




O que eu sou não lhe diz respeito, em parte nenhuma lhe toca. Nasci para poucos e morro por quase ninguém. Contradigo-me em passos de dança invisíveis, enlaçando pernas e prendendo bocas, querendo muito e gostando tão pouco. Não é insatisfação ou sofrimento, é só um tudo ao mesmo tempo agora que não respeita amor de menos, não aceita um gostar pouquinho e querer às vezes. Uma intensidade que não se conforma com noites únicas de começo, meio e fim. Se estou aqui é pela música, pela companhia, pra me perder. Jamais pra desperdiçar uma noite com quem não sabe conversar.
Não me pergunte o que eu faço da vida, isso é banal, é triste, é comum. Queira saber o que me faz feliz, meu ponto fraco pras cócegas. Não pergunte o que me dá dinheiro, porque este é o menor dos meus sucessos. Esqueça meu nome verdadeiro, se eu venho sempre aqui, se estou gostando da música. Agir sem naturalidade é o seu maior fracasso.
Se é mesmo importante que eu responda as perguntas que tanto desprezo, se definir o que sou vai te fazer mais feliz, se quer mesmo saber de mim, comece pelas entrelinhas. Pelo não dito. Pelo movimento dos cílios e as pupilas dilatadas, os olhos nervosos que não se fixam, o modo de apoiar o peso do corpo em uma das pernas e me preocupar com o cabelo. Olhe para as mãos que não sabem repousar e a voz que desafina. Por favor, sou tão ridiculamente fácil de decifrar e ainda insistem em seguir pelo caminho errado. 
E fazem isso porque amam de relance, querem no momento e só por desafio. Porque têm preguiça ou medo de cumplicidade e acreditam perder a noite se optarem por se apaixonar pelo próprio ego. Porque perdem oportunidades de se calarem quando é papel dos olhos falar.
É por isso que eu estou sozinha nesse mundo de luzes e pessoas. É por isso que eu saio de casa e minha roupa não precisa agradar ninguém além de mim.
Porque não deixo o calor da minha rotina pra ser prenda em vitrine.
O que eu sou não lhe diz respeito, em parte nenhuma lhe toca.
Mas se quiser mesmo saber de mim, experimente não me perguntar. E talvez assim desperte minha vontade de contar.


Verônica H.


Nossa esse texto é megggaaaaa ótimo!!! Negritei aquilo que realmente sou e me identifiquei... By Flor


sexta-feira, 29 de julho de 2011


"Quando aceitamos a vida como ela é, até a falta deixa de nos machucar."

Abençoada seja toda a saudade que vez em quando nos agarra.
Abençoada seja cada lágrima que caiu.
Abençoado seja tudo que passou, tudo que é e tudo que virá.
Abençoada seja essa vida e suas sutilezas, que jamais deixa faltar as pequenas epifanias diárias que fazem com que o gosto da felicidade sempre esteja em nossa boca, mesmo com o nosso sorriso ainda torto e o rosto chuvoso.


Camila Lourenço


Um novo retrato 3 x 4...


Talvez eu nunca tenha sentido as coisas assim, tão genuinamente: a raiva, o amor, a alegria, a tristeza, a ansiedade, o afeto, o sexo. As minhas emoções têm emergido sem qualquer filtro, sem qualquer disfarce. E pela primeira vez eu me permito ficar com elas dando a cada uma a importância que me pedem, porque elas não me governam, são apenas emoções, são a minha transparência.
Sempre confundi a espiritualidade com um estado de bom-humor contínuo, uma expressão caridosa constante e a compaixão sempre presente. Talvez por isso, até a alegria me doesse às vezes, pois no fundo, eu queria esconder que dentro de mim havia também certo egoísmo, uma maldade latente, uma força para machucar que é nada além de uma forma humana de defender-se da ilusão de que algo possa feri-lo fundamente. Não respeitava meus instintos quando queria ser a melhor companhia para os outros o tempo todo. E errei muitas vezes na tentativa de acertar. E me feri em diversos momentos dando aquilo que eu não tinha ou queria. Sendo alguém que eu não estava.
A aceitação que eu buscava vinha de uma falsa compreensão que eu oferecia ao outro. Quantas foram as vezes em que eu simplesmente estava entediada com o drama alheio e me fiz prestativa e disponível no instante em que eu só queria respeitar minha vontade de solitude e ficar absorta nos meus próprios devaneios. Quanto tempo foi gasto procurando coisas e pessoas que preenchessem minhas lacunas quando eu apenas precisava do vazio; de estar comigo na feiúra e na beleza que carrego.
Como me arrependo do choro engolido, do elogio economizado, do insulto recebido sem me posicionar, da trepada sem afeto, do poema forçado, do colo que não pedi, do conselho que dei quando eu mal sabia de mim mesma, da ferida que causei por um motivo qualquer, da ferida que me fizeram e que não curei com o perdão.
Quantas palavras foram gastas para falar do silêncio. Quantos abraços foram aceitos impregnando o meu campo energético com um peso denso, e quantas vezes me protegi de uma carícia sincera. Quantas vezes suguei e fui sugada chamando isto de bondade. Quanto mais adequada eu tentava ser, mas eu me perdia do que eu era. E abafei minha loucura no peito comprimido para ser socialmente agradável. E escrevi coisas otimistas quando estava sofrendo de tanto medo. E ninguém sabia que aqui do outro lado eu estava chorando. E deixei que me julgassem sábia quando sou apenas mais uma buscadora tateando no escuro à procura da luz que pretendo beber a grandes goles.
Sou tão humana, Meu Deus! E no processo de lapidação, joguei fora algumas das minhas arestas, que talvez fossem o que eu tinha de mais valioso. Sou apenas alguém que escreve, que oscila, que anseia, que sofre, que ama, que acorda de madrugada pra pensar e tem inveja dos que dormem tão profundamente àquela hora. Não tenho nada que outra pessoa não possa desenvolver também. Não há limite que eu não possa superar. E se você me encontrar por aí, ou por aqui dizendo coisas e mais coisas, duvide de mim também. Sou apenas mais uma na multidão que, enquanto caminha, vai deixando pra trás certezas, adereços, endereços...
Sou apenas mais alguém que.

*

Marla de Queiroz


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Espera...


Espera eu me arrumar, calçar meu sapato, colocar o casaco, tá frio. Espera meu coração acalmar, desacelerar, ou voltar a bater em uma velocidade mais eufórica, sabe como é, ele anda num marasmo tão grande que às vezes até vacila e esquece de bater por alguns milésimos de segundo, anda preguiçoso.  Deixa meu cabelo secar, e espero que ele não fique muito assanhado, mas se ficar também não vai ter problema, já me disseram que cabelo assim pode ser considerado um charme. Espera meu olhar focar e parar de ficar vidrado no vácuo, eu preciso de um ponto para me guiar, como não tenho, só fico indo sabe-se lá onde. E deixa minha respiração suspirar, me deixa sonhar ou comer os sonhos. Deixa eu voltar a ser um pedaço de quem eu fui ou um modelo de mim mesma mais madura. Deixe-me aprender a saber o que é ser madura e espera o momento que eu estiver sorrindo sem motivos especiais, ai vou estar bem. Atualmente ando fazendo uma força fora no normal para sorrir, sinto falta dos momentos que eu sorria e nem sentia. É como se eu estivesse numa vida com lembranças que não são minhas, mas que eu estou presente. E espera eu me recompor, juntar os pedaços de mim, deixa eu me refazer ou me reinventar, sinceramente estou  tão perdida que não sei mais que sou, só sei que estou aqui. E quando eu estiver pronta, segura minha mão, me leva pra dar um volta, em um lugar bem ventilado, onde a brisa possa bater de leve no rosto, e o som ao ouvir no fundo seja o do mar, ou das árvores, ou de carros buzinando, não importa, porque por dentro eu saberei que estará tudo bem. E me puxa pra junto, se faz de porto-seguro, e diz que sempre vai estar por perto. Me faça engordar em jantares deliciosos ou comendo no botequim da esquina. Beba comigo enquanto eu fico gargalhando sem motivos e fique a me olhar, sem explicar, sem precisar falar. E eu deixo você segurar meu rosto enquanto eu fecho os olhos e sinto que tudo esta firme, que sou eu na minha vida e que tenho o controle de toda situação. E quem não poderia desejar tudo isso? Eu desejo, mesmo que meu olhar negue e meu sorriso se feche. Mesmo que eu não te encare ou te descarte. Mas espera, espera por uma eu que está por vir, ela será bem melhor do que sou hoje. 
Agora preciso ir, me arrumar, calçar meu sapato, colocar o casaco, tá frio.

Dona Cor


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Se me der na telha eu volto...


Não é simplesmente dizer "eu te amo", amar significa muito mais. 
Não é simplesmente fingir que está tudo bem e seguir em frente, de querer ultrapassar barreiras e passar uma idéia de "fortaleza" que não é real. 
É uma questão de se entregar, de querer "estar" um para o outro e para a relação e eu não estou pronta como antes... 
Mesmo existindo o sentimento, que muitas vezes é até confuso, não me sinto pronta para ingressar nessa jornada contigo. É como se você estivesse para "Leite morno" e eu para um "milkshake"... Um turbilhão de coisas passam pela minha cabeça e tenha milhares de outras para resolver tudo ao mesmo tempo sem a tua ajuda para nada...
Pode ser que em algum tempo atrás estivemos na mesma sintonia, mas a frequência mudou para mim, em cada "ausência" tua que me feriu como uma faca me cortando por dentro nos momentos em que mais precisei de você... Aquele EU que hoje procura já não existe mais. 
Aquela menina por vezes meiga e frágil foi descartada por uma face mais fria e defensiva para me privar das dores que sinto...
E se você voltar agora, acho que quem vai te machucar sou eu... Machucar bem machucado mesmo até sangrar! Porque meu coração foi esmagado, sobreviveu e corre passando por cima de quem tenta passar por cima dele...
Talvez o problema agora nem seja você e sim eu mesma! Porque perdi aquele "feeling" de fazer o que te agrada, o que te faz bem, o que te deixa feliz... Não faço nem por mim, quem dirá por você...
E mesmo que você se prontifique a permanecer comigo ou a minha espera, não vou te iludir dizendo que tudo será como antes ou mesmo que vou voltar a ser doce como já fui. 
Aquele bom tempo ficou na memória registrado como alguns dos melhores momentos da minha vida, mas passou, foi embora com o vento forte que veio levando os sonhos e trazendo a tempestade...
Você não percebeu os destroços que sobraram em mim depois das últimas tempestades e não viu quantas vezes eu sangrei...
Agora se quiser ficar, fique e vai alimentando sua esperança de dias melhores...
Se me der na telha eu "volto", enquanto isso iluda-se um pouco achando que a qualquer hora vou te abraçar e segurar na tua mão para caminhar contigo como sempre fiz quando lançava um sorriso maroto ou um olhar de "gatinho carente" como pedido de desculpas.
Já disse: Se me der na telha eu volto!
No momento estou mesmo é passeando um pouco para fora de mim...

By Flor



Wedding Tickers

domingo, 24 de julho de 2011

Dos versos que me compõem...


Trago em mim
Um recado
Às vezes mal dado...
Por luz divina
ou uma alma ferina.

Trago lembranças
Replenas de fantasias
Existência que completa e sobeja...

Nesse recado, uma parte
do seio que em mim cabe,
mora um verso
em que componho e me faço,
 e me pertence a metade do laço
desse espaço 
que não me sabe.

É um recinto,
Maior do que o sinto...
Maior que minha vida..
Maior que meus sonhos...
Maior até que o amor,
E a alma que se vai, às vezes com dor...

Nesses versos que me compõem
Cravo e me completo,
Me revelo essencialmente...
E transpareço...
O anseio e o abraço
De outro pedaço
Que aqui jaz, 
enfim.

Transcrevo e ouço,
Um canto agora,
Desse encanto que me traz
Essa saudade voraz
Que em paz,
se acabe...
 e fim.

Nesse verso que mora em mim
Que eu me encontre...
E também a poesia que exala
Desses versos tão fugazes
Desse tempo que esvai
Que foge, escorre
E me abstrai...

Que me depare com a verdade,
Nem ouça e nem fale,
Somente me cale
Diante do verso
Que tudo diz de mim.
Ante a rima e a quadra...
Perante o amor e a alma
Em presença de tudo que almejo.
Vívido assim...


Juliana Alves


sábado, 23 de julho de 2011


O que penso, falo. 
De repente, vez ou outra e por acaso, falo também o que não penso. 
Depois, me retifico ou tento.
O que sinto, digo sem muitas erudições. 
Proibido é dizer sem sentir ou sentir sem dizer. 
Tenho o coração na ponta da língua.
O que não aceito, reivindico. 
O que não gosto, reinvento. 
O que amo, reviro e revivo: peço mais.
O que faz bem aos ouvidos, deixo tocar até ensurdecer. 
As palavras doces, finjo que não entendo e peço pra repetir. 
Palavra bonita eu anoto.
O que penso de verdade, grito. 
O que penso ser suave, sussurro. 
Sussurro... Do que é mais doído, me lembro até o fim da memória.
Gosto de expor meus exageros. 
É bom me parecer comigo.
Espio as miragens e, com elas, pauso a vida por alguns segundos.
O que me surpreende é o que me faz feliz. 
O que emociona tem sempre o gosto da primeira vez. 
Gosto desse gosto. 
Surpresa é doce.


Silvia Prata


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Noção de mim...


Eu sinto um medo de ser bruma, de ser pluma, de ser leve e ser levada. Eu tenho medo, mas não aquele medo que domina, que impede, que seqüestra; é o medo pelo seu melhor lado, do seu melhor jeito. Um medo que traz implícito as borboletas para dentro do estômago, junto com a quase certeza de que voar é bom. Sim, eu quero ser levada. Eu quero descobrir o jeito certo de existir, e o modo exato para ouvir os pensamentos que ainda têm um bocado de você.
Tentei equilibrar as lágrimas, mas elas pesaram e caíram até virar palavra. Cansei de mal-me-quer, de levar o caos no peito, e de sentir falta de tudo o que eu não vi, vivi ou conheci. Tenho saudade de tudo o que eu teria visto, vivido e conhecido se eu não estivesse aqui, esperando por você, por um momento, por uma vida, por enquanto.
Eu queria me engolir para ver se me caibo, se me encaixo, se me paro aqui dentro, dentro de mim. E eu, que nunca me fui tanto, não me sou agora e talvez volte a ser; não por muito tempo, mas talvez pra sempre. Eu não sou mais a mesma, assim como ninguém o é depois de ter amado. Mas, eu não quero precisar de alguém para me lembrar sobre quem sou. Quero ter a minha própria noção de mim.


Gabriela Castro


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Aprendizes de Deuses...


"E fazer o meu próprio caminho foi a brincadeira mais séria que a vida me propôs."

Não é que somos mentirosos, é só que somos humanos e isso, as vezes, implica em sermos o carrinho da montanha russa, indo do cume mais alto ao poço mais fundo, conduzidos por decisões muitas vezes vestidas de contradições.
Não é que amamos ontem, odiamos hoje, esquecemos amanhã e depois tornamos amar. É que na ânsia de encontrarmos soluções, acabamos confundindo sensações e acreditamos de fato ter colocado no passado o que nunca sequer deixou de fazer parte de nossos sonhos para o futuro.
E aí, quando a vida está uma zona total, relembramos que ser humano é mesmo estar em recomeços continuados, que hora a gente acerta, hora não.
Já não me recrimino mais se hoje sinto bater no peito o sentimento que horas antes eu já julgava morto. Na vida, nada é definitivo, nem mesmo o esquecimento.
Aprendizes de deuses, autores amadores do destino, é o que somos.


Camila Lourenço


terça-feira, 19 de julho de 2011

Não agora...


Eu apagarei você da minha memória, deixarei no inconsciente qualquer lembrança boa que eu tiver de você, e sua voz eu não irei reconhecer. Não sentirei saudades das noites que passamos juntos, nem das palavras doces que trocamos, farei questão de esquecer o toque dos seus dedos no meu rosto. E não, não olharei pra trás na hora de partir, porque se eu olhar deixarei metade de mim, então sairei completa. Não vou guardar suas cartas e apagarei suas mensagens, esquecerei das coisas que cozinharia pra mim e não vou lembrar-me dos dias de chuva que passamos sob o mesmo guarda-chuva. Vou ser firme e não atenderei seus telefonemas, utilizareis de todos os artifícios que a mim estiverem disponíveis para não pensar nos dias incríveis que vivemos juntos. E esquecerei seu beijo suave, o toque leve dos seus lábios nos meus, e dos brutos. As mordidas, lambidas, a intimidade de tocar o outro, de ter o outro e de saber que o tem. Esquecerei a forma que minha cabeça se encaixava nos seus ombros, e de como suas mãos faziam voltas no meu cabelo enquanto ele simplesmente deslizava por entre seus dedos. E não lembrarei todos os gostos que provamos juntos e trocamos. Vou esquecer-me dos seus braços envolvendo meu corpo, da sua voz falando baixinho, dos seus dengos e carinhos. Da forma convincente de me fazer tentar e tentar outra vez. Vou ser minha, pra mim, inteira. Mas não agora. Não ainda. Prefiro voltar a tentar, mais uma vez.  Agora quero cuidar de você, te beijar novamente, sentir teus abraços de novo, dessa vez eu sussurrarei no seu ouvido e te direi tudo que você precisa ouvir. Não serei egoísta nem inconsequente, usarei de cautela nas minhas escolhas e espero que também o faça. Serei clara, e metade, esperando que você me complete. Não vou correr quando o medo bater à porta, mesmo podendo vir a chorar, mas não vou te deixar, não ainda, não agora. Vou aprender a pedir desculpas, eu juro, vou desculpar e parar de culpar. Saberei calar quando for necessário e ouvir quando precisares desabafar. Deitarei ao teu lado e eu mexerei no seu cabelo, fazendo voltas deixando simplesmente ele deslizar por entre meus dedos. E vou precisar olhar nos teus olhos, encará-los pra acreditar que ainda existe amor em ti, que eu ainda sou indispensável e indecifrável pra você.  E preciso que seja confiável, que não minta ou omita, preciso pressupor sua sinceridade, e acreditar nela. Preciso que seja fácil mesmo quando eu estiver difícil. E que fique calmo quando eu estiver histérica. E preciso de cuidado, de cuidar, de saber que ainda podemos funcionar. Da pra desistir sabe, parar de remar contra o dilúvio, da pra voltar atrás e jogar tudo de lado, viver sozinha sendo um pedaço de quem eu já fui e eu poderia mesmo,mas, não quero tentar. Não agora!

Dona Cor


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Outono...


“Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. (...) 
                             É aceitar doer inteiro até florir de novo” (Caio. Fernando Abreu)

Deixei-me desabrochar assim em ar convidativo, mas era uma urgência que me letrava, que me pautava, e me beijava em rimas, em prosas e desafiava-me a abrir as cortinas e lançar fora toda a poeira de dor que insistia em permanecer por ali, mofando. E não abri mão. Deixei-me ir.
Por vezes percebo que essa estação é uma alavanca em minha vida. Digamos que uma válvula de escape. Porque tem coisas minha gente que é preciso retirar, arrancar do peito se for preciso. E mesmo que o Outono seja uma etapa de perdas. Sei que o “arrancar” do peito também é uma “perda”, é uma entrega: é libertar-se. É arejar, tirar as névoas, afastar os móveis e ir bordando noutros lençóis, noutras telas, noutros jardins. 
Minh´alma se iguala. E é dedilhada pelas notas dessa estação, como um ar fresco exalado dos lábios de Deus. Talvez, necessitamos que as coisas tomem seu curso, deixem ir. Sabe-se lá, também, que as folhas das árvores são assim, elas precisam cair, secar, para reviverem na estação recém-chegada. 
Por ventura se essa “gestação” não fosse cumprida, as folhas se alto abortariam antes de recém-nascerem e morreriam sufocadas, pisoteadas. 
E ele chegou bonito, escancarando adentro, rompendo em meu coração toda dor e lágrima que me oprimia. Por hora, decidi desprender de certas pessoas, coisas e recolhi os meus sonhos, minhas pétalas. Porque sei que há de ter um sopro, um suspiro, que pode até doer, mas me fará tecer por um fio; a mesma flor que Ele trouxe pra mais perto.


Fernanda F. Fraga


domingo, 17 de julho de 2011

Dádiva...


"Sabemos que amamos alguém quando suas dores se tornam nossas dores. Querer viver sem nenhuma dor é querer viver sem amar. Amar é também correr o risco da dor. Amor não é dos fracos, mas dos fortes capazes de suportar a dor alheia."
Jung Mo Sung


Dádiva é receber da vida a beleza do encontro; o impagável entrelaçamento das almas em lealdade. Inegociável presente de Deus que nos cuida, amizade. Nas múltiplas faces de sorrisos, amigos.           
Companheirismo em gratuidade que nos ajuda a tonalizar os dias cinzas, que mesmo quando insistimos em deixá-los pálidos se assentam  ao nosso lado dispostos a esperar o retorno das cores.
Soprando fôlego vivaz, as palavras ganham forma corpórea em atitudes, fazendo –se de oásis humano que refrigera e sacia a alma que claudica no deserto da existência.
Residem do lado de dentro, dois corações pulsando como um só. Sangue corrente na veia formando o amigo-irmão. Dividem sonhos, expandem esperança e somam vida diminuindo a dor. Revisando entre protagonistas e coadjuvantes, agregam significados na construção do caminho, posto que o ambiente de confiança instalado vence a inexorabilidade do tempo. Estirão em que alguns passam e outros se vão, mas, amigos mesmo permanecem, ainda que perto ou longe e ausente-presente.
Amigo é o caminho que nos devolve a fé no outro e constrói uma estrada de laços resistentes nos futuros mais incertos e distantes. Com a liberdade que nos une, os amigos nos sabem de longe e se deixam por perto no minuto em que o olhar da gente tenta desviar – se da superação que se esconde atrás das dores.
Coração que ama sem condições e obstáculos. Aconchego em forma de abraço. Ensinamento compondo os passos que desaprendidos, alcançam os degraus dos sonhos mais impossíveis.
Alma que habita as lembranças mais bonitas, presente que dissolve os nossos passados magoados, substituindo – os por enfeites de força e sorrisos, amigos sabem polir os nossos traços.
Amizade é para quem entende, para quem reconhece seus próprios limites.
Ter um amigo é estar salvo, é viver sobre a mão que acalma, sobre o colo que conforta, sobre a palavra que lhe lembra verdades, sobre o encontro que lhe fornece alegrias frescas, recém saídas de uma singularidade.
Amizade é o vento que tira a poeira dos tapetes, afasta as agonias, acrescenta vida aos nossos espaços mais desabitados. Alonga as possibilidades. Às vezes, também é a dor que alcança o nosso peito, que desprende as nossas lágrimas, mas que nunca, nunca perde a medida do perdão.
Não há tempo que lhe faça durar menos. Na amizade, perto é estar dentro e sempre é justo o momento em que nossos encontros luzem milagres.


Priscila Rodê e Patrícia Costa


sábado, 16 de julho de 2011


"Estar com alguém errado é lembrar em dobro a falta que faz alguém certo."
|Tati Bernardi|

Novos ciclos só começam quando finalizamos o que estamos.
Novas portas só se abrem quando ousamos dar um passo em direção à maçaneta.
Novos amores só surgem quando a nostalgia deixa de ser companhia no café da manhã, almoço e lanche da noite.
Nos libertemos. Até mesmo um masoquista sabe a hora de parar.


Camila Lourenço


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Perdas...



Há muitas perdas quando se termina algo que não se queria ter terminado: muda-se a auto-imagem, alegrias ficam suspensas, sonhos desaparecem por um tempo e nenhuma cor na paisagem. O cotidiano fica obscurecido por aquela lacuna aberta no meio do que era a parte mais interessante dos dias.
Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifico voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas...
Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão:
“Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono... Que venha um sonho novo, então.”


Marla de Queiroz


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Dar tempo ao tempo...


"Dar tempo ao tempo,
o tempo é que manda
o tempo é o parceiro que está
a jogar do outro lado da mesa,
e tem nas mãos todas as cartas do baralho,
a nós compete-nos inventar os encartes com a vida..."
.
.
.

"Há que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte"


José Saramago


O barco da vida...



O barco da vida é frágil. De uma hora pra outra, uma onda inesperada, ou um simples vento, te joga fora do seu navegar em águas tranqüilas. O bater em uma pedra, que parece de propósito, colocada no caminho, pode provocar buracos sem conserto em seu casco.
Se estou sozinha, porque acho que todas as pessoas são iguais e sempre vão me magoar ou por que repeli a todos com meu mau humor e rancores excessivos, será impossível tirar a água que invade e nos puxa pra baixo, remar e ainda procurar o rumo certo pra sair da tempestade.
Se alguém te magou, se alguém te feriu, não deixe de tentar outros relacionamentos e novas amizades. A mega sena nem sempre sorteia seus números e nem por isso você deixa de tentar a sorte no próximo jogo. É preciso acreditar que se pode ganhar e continuar tentando.
Num mundo cruel e com taxas altíssimas de desamor, saber que não estamos e que não ficaremos sozinhos, nos ajuda, ainda que com probabilidades de chuvas e trovoadas, continuar a ir frente sem medo. Sabendo que temos com quem contar.
Cultive pessoas, cuide-as, regue-as e faça com que elas cresçam junto a ti.
Como já dizia o poetinha Vinícius: “É impossível ser feliz sozinho”


Sam


Casamento...



(...) O amor é, portanto, na sua origem, liberação e aventura. Por definição, anti-burguês.
O próprio da vida burguesa não é o amor, é o casamento, que é o amor institucionalizado, disciplinado, integrado na sociedade.
O casamento é um contrato: duas pessoas se conhecem, se gostam, se sentem atraídas uma pela outra e decidem viver juntas. Isso poderia ser uma coisa simples, mas não é, pois há que se inserir na ordem social, definir direitos e deveres perante os homens e até perante Deus. Carimbado e abençoado, o novo casal inicia sua vida entre beijos e sorrisos. E risos e risinhos dos maledicentes. Por maior que tenha sido a paixão inicial, o impulso que os levou à pretoria ou ao altar (ou a ambos), a simples assinatura do contrato já muda tudo. Com o casamento o amor sai do marginalismo, da atmosfera romântica que o envolvia, para entrar nos trilhos da institucionalidade. Torna-se grave. Agora é construir um lar, gerar filhos, criá-los, educá-los até que, adultos, abandonem a casa para fazer sua própria vida. Ou seja: se corre tudo bem, corre tudo mal. Mas, não radicalizemos: há exceções — e dessas exceções vive a nossa irrenunciável esperança (…)


Ferreira Gullar


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