terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Contrato de Risco



Antes de começar, devo esclarecer que não há vínculo desse texto com nenhum tipo de credo ou filosofia específica. Apenas divagações de uma manhã ensolarada de primavera... Tem dias, como hoje, em que eu questiono a liberdade. Acredito que todo mundo já tenha tido essa experiência de não se saber livre.
Ninguém é totalmente livre. Sempre se está preso a alguém ou alguma coisa.
Fiquei aqui de prosa com meus botões, de como seria se tivesse uma segunda chance. Tipo nascer de novo e poder escolher novamente meus caminhos. Não que me arrependa dos que escolhi, mas simplesmente a curiosidade de saber se conseguiria me tornar livre.
Mesmo que eu recomeçasse com tudo o que sei hoje, será que poderia ser livre? Talvez não caísse nas mesmas teias, fugisse das garras já conhecidas, ou dos dentes vorazes dos quais hoje não consigo me desvencilhar. Contudo, certamente cairia em novos labirintos, outras armadilhas, atada por outras cordas.
Às vezes tenho a impressão de que passamos a vida como andarilhos de campos minados, agradecendo a cada bomba não detonada, a cada passo seguro ou, pelo menos, sem seqüelas. E o outro lado nunca chega. Está ali, aparentemente tão pertinho, no entanto, leva-se a vida para alcançá-lo. Tenho cá minhas dúvidas se um dia atingirei a outra margem.
Todas as ocasiões em que observo a minha existência em linha reta, do nascer ao morrer, e me vejo além da metade do traço, aumenta essa aflição, como que uma obrigação a cumprir, uma tarefa ou missão, algo por aí. Como se fora um objetivo ou meta a atingir. Como se, para morrer, fosse necessário antes realizar alguma coisa que não nos foi revelado na chegada. Assinamos um contrato e vamos lendo as cláusulas ao longo do caminho.
Peraí, mas onde está escrito isso? Onde está o manual? Onde estão os tópicos, do tipo: "Da Felicidade", " Das Dores", "Das Lágrimas", "Da Solidão", "Dos Desencontros" ?
Não! Não há!
Em qualquer contrato, até mesmo de aluguel, por mais simples que seja, se encontra os ítens: "Das mensalidades", "Das multas", Das Obrigações do Locatário", "Dos Direitos", etc.
E a vida, não é um contrato? Não é um compromisso de se vivenciar tudo o que vem, sem direitos de defesa do consumidor?
A quem reclamar do corpo que não agrada, de um coração com defeito, de uma alma descalibrada, de uma personalidade de bateria fraca, sem luz? A quem cobrar as injustiças, os dias de solidão, as angústias das perdas? Onde descontar o cheque da liberdade?
Chego à conclusão que somos eternos prisioneiros. O poeta bem que tenta a liberdade das palavras, dos sonhos, da imaginação. Mas é somente um outro tipo de cárcere.
Não há liberdade, posto que a vida, como se nos apresenta, é uma prisão de segurança máxima, onde somos colocados em celas de carne e osso, num estado de semi-inconsciência, ora de idílio, ora de pesadelo, onde unicamente somos libertados no momento final, quando tudo o que sabemos e adquirimos de conhecimento torna-se pó, diante do imenso portal que se nos é mostrado.


Aí, bem, aí talvez o próximo passo seja apenas mudar de penitenciária...




Lilian Maial

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