Hoje estou me sentindo que nem planta em fim de estação: murcha de dar dó. Presa em uma tristeza que não tem mesmo jeito porque não sei direito de onde vem, nem quando finalmente irá... e, sem solução, deixo que me invada e me entorpeça para que possa mergulhar dentro de mim mesma à procura de respostas.
Há o vazio... O vazio que vai além da solidão, vai além da “sozinhez”, vai muito além de qualquer sonho de unidade que, em momentos de descuido, eu possa ter; é este imenso vazio que surge quando tento me comunicar e não encontro ressonâncias... Alguém me disse, há algum tempo, que em determinados momentos estamos mesmo absolutamente sós. É assim que me sinto agora, e preciso fugir daqui, antes de ser novamente encarcerada em certezas que não são minhas, em velhos padrões que eu jamais inventei.
Busco a liberdade como quem tenta sorver, em grandes bocados, a vida que lhe resta. Quero a liberdade de andar descalça rumo ao nada; liberdade de acordar, abrir os braços e abraçar o mundo que ainda não conquistei; liberdade de cantar debaixo do chuveiro sem ter meu canto rotulado de desafinado...; liberdade de chorar em um momento de alegria ímpar...; ser livre por inteiro para amar a mim mesma, meus semelhantes e o homem que certamente jamais caminhará comigo rumo às estrelas, porque o preço desta liberdade se chama solidão.
E não mais como folha de planta murcha, mas como alguém que se quer inteira, descubro que o que sinto não é tristeza, e sim certeza de que ando procurando fora de mim às respostas que estão aqui mesmo, e que não estou podendo enxergar e deixar que façam sentido... Pois me ensinaram que não se pode viver só. E, então, faço minha escolha, abrindo as portas para que se vá à vida que eu não quero viver.
E te assumo, solidão. Seja bem-vinda! Adentra meu mundo e me dá tua mão, pois estou cansada. Cansada de sonhar que, em algum lugar, as emoções vão fluir no mesmo ritmo sensual das ondas do mar, naquele mesmo refluxo natural e único, quando a imensidão do oceano é toda a resposta de que se precisa, quando não souber para onde ele vai pouco importa, porque ele é aceito no seu total esplendor, com sua multiplicidade de tons e com aquela espuma branca como o véu que, um dia, me recusei a usar.
Estou cansada de rótulos. Não quero mais ser examinada e catalogada como mercadoria vencida, pois sou um espírito inquieto demais para ser exposto em uma prateleira de vitrine qualquer. Não quero rótulos nem quero mais me sentir devedora de afetos que não consigo sentir, de explicações que não tenho para dar... Não quero mais cobranças, nem obrigações, nem amarras.
Também estou cansada de palavras vazias que nada significam a não ser a vontade explícita, de quem as profere, de mentir para mim e para si mesmo... Afinal, de que me servem as palavras se são os gestos que falam? Ou se apenas o silêncio, por vezes, expressa tudo?
Fica comigo, solidão, porque teu silêncio vale muito mais do que tudo que tenho ouvido; tua aceitação muda da minha essência é infinitamente maior que qualquer momento ilusório em que meu coração tenha se enternecido, ou tentado se expandir além do limite do aceitável, do compreensível e do permitido.
Quero voar, solidão. Quero sair deste corpo e deixar que minha alma voe livre por entre todas as possibilidades da vida... E como esperar que alguém compreenda que o medo de que não haja tempo para tudo me torna insone e, por vezes, insana? E como imaginar que a limitação do outro possa se encontrar na minha ânsia de viver, cada vez mais rápido e cada vez mais comigo mesma? Que é assim que me sei inteira e que só assim posso me entregar?
Vem comigo nessa viagem sem volta, solidão. Descobri que a paz que tu me trazes nada mais é do que a paz que há em mim quando estou em minha e em tua companhia, e que é somente nesses momentos que me sinto coesa com meus pensamentos, com tudo aquilo que é meu de direito e que a todo instante querem me tirar e me negar.
Vamos juntas, solidão, rumo ao sol e ao infinito, e até mesmo em busca das estrelas, sim, e apenas nós, porque a felicidade está bem aqui ao meu alcance e só a encontro quando, sozinha, e em absoluto respeito por mim mesma, me sinto completamente livre.
Maytê
Maria Tereza Albani
Nenhum comentário:
Postar um comentário