"Eu sei, volta e meia à gente fica culpando nossa aparência, nosso jeito de ser, nosso jeito de se comportar. A gente vai colocando a culpa em si, pra justificar todos amores errados, todas as paixões que não deram certo, e, todos os encantos desencantados que já tivemos.
Depois de um tempo observando, vi que não era o culpado. Não tem nada haver com o meu rosto, meu corpo, ou essas coisas que os dias e as músicas tristes fazem a gente pensar. Todo problema está em: como viver.
Beleza pode até encantar. Caráter, inteligência, contam, mas, também, não definem. O problema são os pontos de vista. Os credos. É importante se identificar com o jeito de ver a vida, do outro. Quando a gente se apaixona pelo resto, a gente se frustra.
Fechamos os olhos pra uma série de defeitos achando que outra série de qualidades vão suprir as faltas ou tapar os buracos. Nunca acontece. Uma hora as diferenças caem em cima da gente, e nos esmagam feito barata em quarto de mulher.
Acho que por isso as pessoas buscam tanto gostos em comum. Quando mais coisas a gente gosta igual, mais as nossas formas de viver vão se aproximando. É como eu gosto de dizer: “as diferenças precisam ser complementares pra dar certo”.
Não existe relação que dê certo, se o jeito de ver o passado, curtir o presente e até a ilusão de projetar o futuro, não forem no mínimo parecidas. Nunca vão existir seres iguais, mas, almas gêmeas são só seres que veem a vida de uma mesma forma, ou, no mínimo parecidas.
Por isso existem cobranças, por isso existe insegurança, por isso existem finais e começos todos os dias. Vivemos vidas diferentes das vidas das pessoas por quem nos apaixonamos. Isso dificulta as coisas. Isso dá margem de erro.
É extremamente complexo, duas pessoas que tiveram criações diferentes, educações diferentes, regras e limites diferentes, experiências diferentes, verem a vida da mesma forma. Irmãos gêmeos, que sempre partilharam de quase as mesmas coisas, teriam essa diferença, então, por que alguém que eu venha conhecer na vida vai precisar se parecer tanto comigo?
Confuso. Talvez a solidão só seja uma forma de mostrar pra nós mesmos que vemos a vida de um jeito diferente dos outros bilhões de seres que povoam a terra. Talvez, a pessoa que enxergue a vida com os mesmos olhos que a gente vê, ainda apareça, ou, nós ainda precisaremos passar por diversas etapas entre lentes de contato e óculos de grau, achando que outras formas de ver, se parecem com as lentes multifocais dos nossos olhos."
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