terça-feira, 13 de setembro de 2011

Diário de Mágoas...


"E esta ternura,
meu Deus,
essa minha ternura inútil,
desaproveitada."
(Mário Quintana)
 
Guardado num velho baú, esquecido atrás da porta da sala de jantar, remexendo em papéis amarelados pelos anos, encontrei antigo diário.
Durante longo período da minha vida foi o confidente mais fiel. Nele armazenava minhas dores e mágoas. Estranha sensação essa de rever caminhos que já trilhamos.
A vida é então cumprir tarefas. Marido, filho, casa, emprego. Aparentemente nada que preocupasse... Aparentemente...
Havia um vulcão que soltava fumaça anunciando em breve uma erupção. O ar se fazia rarefeito. Havia uma ternura armazenada pedindo para ser usada e não encontrava endereço certo.
Havia uma paixão além dos previsíveis momentos e gestos a que meu corpo já acostumara. Havia uma voz que chamava para além dos limites de muros e correntes que me prendiam.
Queria o desconhecido e inseguro e havia o medo e lágrimas que ficaram marcadas nas páginas do diário. Parece-me sem sentido ter sufocado tanto tempo sentimentos e vontades, no entanto, a segurança de uma vidinha pacata e opaca é capaz de iludir.
Abandonar a praia e jogar-se num mar bravio pode custar caro e não arriscamos um provável naufrágio até que algo ou alguém nos tire do rumo.  Mágoas e ressentimentos se esvaziam nas possibilidades da liberdade e de renascer inteira, integra.
Recomeçar...
Amadurecer dói e assusta corações incautos.

Isar Maria Silveira


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