terça-feira, 17 de maio de 2011

Pedaços do dia...


Nem sei contar quantas vezes, segui o rumo dos meus pensamentos em completa abstração. Desligada dos barulhos da casa...de bocas falantes...dos caprichos da natureza...
Divagações do agora, têm cheiro de malvas maceradas, gosto de beijo e enfeite de saudade.
Tateando, suavemente, as lembranças amarradas com fios de seda no meu peito, dou-me conta de que sem os sentidos, muitos, mas, muitos mais que os conhecidos, jamais seria capaz de perceber a beleza, compor um verso tampouco sentir e fazer amor.
Sou mulher.
Aqueço o congelado descaso pelo lado cinzento do mundo com raios emprestados do sol, a fogueira das minhas emoções e a paixão pela vida.
Abro a janela para os bocejos da aurora em ação de graças por mais um dia a ver, fico mais velha com a manhã apressada, cresço com a tarde madurando o dia, descanso das trabalheiras aconchegada na noite de bom dormir, ressuscitando anseios em sonhos da madrugada.
Privilégio abençoado - sonhar dormindo ou acordada -
Trocar realidade por fantasia, nem que seja para sossegar um pouco das ruins novas diárias.
Consertar histórias de final infeliz com os remendos das palavras.
Ah, se eu pudesse!
Pediria vez em tribunas, coretos, púlpitos, locomotivos, templos, praças e até horário na mídia apenas, para falar de amor.
Diria ao exigente para não cobrar com juros, ao insatisfeito não se idealizar no outro, ao intolerante paciência no pensar e agir, ao sozinho triste, que fizesse um exame de consciência e aos desvalidos de sentimentos menos ambição e muito mais poesia.
A escola doutrina para os textos escritos: começo, meio e fim.
Mas nos bancos da vida, textos, contos, romances, histórias nunca escrevem um final.
Só a morte é dona do epílogo de todos nós.
Já vi tanta historia no meio depois de contada com festa.
E muitos sinos e fogos cantando o próximo episódio após choro de desamor.
O enovelar do tempo
Dia-a-dia não tem ponto final.
Por isso é divino desfrutar cada pedaço de um.


Vilma Duarte

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