Relacionamentos amorosos e seus finais sempre trazem a necessidade de repensarmos a vida. No balanço do que foi ou não feito estão, os telefonemas que não foram dados, as amizades que foram deixadas de lado, as exigências que não foram cumpridas ao pé da letra pelo parceiro, as pequenas negligências: os encontros e datas esquecidas e brigas principalmente causadas pelos exageros individualistas, tudo provocado pelo excesso de trabalho, pressa, estudo. De fato, estamos cada vez mais voltados para o próprio umbigo e o individualismo é um dos principais fatores que causam o término dos relacionamentos.
O que mais parece é que, no mundo de hoje ninguém mais se importa com a solidez de um relacionamento. Já encabeçamos um namoro preparados para o “se”, “se não for a pessoa certa”, “se não der certo”. E quando não dá certo, também não tem problema, afinal, amores vêm, amores vão e não se faz o menor esforço para preservá-los. Ahhh, são assim os amores contemporâneos, tal qual miojo, repletos de felicidades instantâneas e passageiras. Os “eu te amo” trocados no primeiro e único mês de namoro, as demonstrações exageradamente calorosas de afeto nas redes sociais, o juridicamente fácil “casar” e “descasar”.
O amor dos novos tempos funciona como moeda de troca. Somos operários da fábrica de possibilidades a La século XXI, mulheres e homens que estão sempre em busca de algo compensador. Estuda-se muito até alcançar uma educação superior, depois uma estabilidade financeira e uma carreira respeitável e somos felizes porque achamos que já conquistamos tudo que precisávamos. O mercado é quem dita as regras e quem obedece alcança a suposta felicidade, sozinho. De maneira que, o trabalho importa, a ascensão social importa, mas o amor idealizado em um parceiro é apenas um acessório. Se fica difícil lidar com ele é rapidamente trocado.
Todavia, não quero dizer que ninguém mais hoje em dia pensa em encontrar um parceiro e passar o resto da vida ao seu lado. Apesar da maior liberdade e das mudanças globalizadas que aceleram nossas vidas, no fundo o que queremos é encontrar alguém que seja cúmplice e compartilhe momentos. O problema é que não mais sabemos como, lidar com o outro, porque somos vítimas de um século onde tudo é fulgaz. Os amores tornaram-se líquidos, se o outro não se submete às nossas possessões, não corresponde às nossas expectativas, puxamos a tampa e damos adeus ao amor que se escorre pelo ralo.
Diante disto, ainda assim, não dá para dizer que não se possa amar. Talvez as relações se tornem menos frágeis quando entendermos que o amor não é fácil, não se acha se comprarmos GPS, não é contrato, nem investimento na bolsa de valores. Se queremos tê-lo temos que torná-lo indispensável. Acredito que pertencer à pessoa amada deve ser mil vezes melhor do que acumular pertences, ter um celular transado, um sapato Chanel, um carro do ano, porque o amor traz mais felicidades do que as coisas.
Só não se deve amar para ser recompensado. É preciso lidar com os defeitos, manias e personalidade do outro, já dizia Manuel Bandeira: “os corpos se entendem. Mas as almas não”. Eis a graça de tudo, por ser exigente o amor precisa de sacrifícios diários. Assim, sábios ou sofríveis, são admiráveis os que lutam e sacrificam os seus dóceis corações espartanos por alguém, estes sabem entender que o amor não gosta de fins, mas sim dos a fim de afins.
Manuel Bandeira
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