sábado, 8 de janeiro de 2011

É tempo...



É tempo de mudar as coisas que me fazem mal. Esvaziar as gavetas, libertar os espaços para o novo chegar. Diminuir os móveis da casa, aumentar os espaços da alma. Respirar.
É tempo de jogar fora as coisas estragadas que estão em mim. Precisar menos das minúsculas coisas que as mãos podem pegar. Doar pra alguém o que não é mais verdadeiro pra mim. Precisar mais das coisas que o corpo não toca. E abraçá-las.
É tempo de renúncia, de deixar pra trás as coisas que não me servem mais.
É tempo de rasgar os rascunhos errados que eu criei. De consertar as rasuras que rabisquei em papel amarelado de tanta vida.
É tempo de mudar. Mudar de rumo, de rota, de direção. Mudar de mares, mudar de ares. Levantar voo com asas novas. Atravessar pontes diferentes. Trocar o velho sapato gasto por uma caminhada nova e macia.
É tempo de decidir o que irá na bagagem, porque a nova viagem é longa. Encontrar e abrir o coração para o novo. Apaixonar-me por tudo outra vez.
É tempo de encarar alguma leveza. De deixar as mãos vazias e livres pra tocarem em tudo pelo caminho. Pintar outras paisagens, com cores outras que não as conhecidas, desbotadas, gastas de tanto doer.
É tempo de refrescar as águas dos meus banhos. Molhar o amor. Deixar que ele se lave em água pura, em nascente intocada, completamente nu.
É tempo de renovar, de mexer nos meus mecanismos.
É tempo de arrombar as portas pesadas que me impedem de entrar no meu próximo ser. Tempo de janelas escancaradas e ares frescos e perfumados.
É tempo de bússolas imaginárias. De pés mais suaves e resistentes, de passos largos. Tempo de saltar sobre as pedras no meu caminho com molas gigantes e assim, no salto, agarrar algumas nuvens lá em cima.
É tempo de abrir as algemas que me prendem a mim. E é tempo de não achar-me descartável e vã. Sim. É tempo de não ser tão invisível, tão pouca, tão rasa, tão nada.
É tempo de encontrar algum tempo pra testar um sorriso e arriscar ser feliz, mesmo não tendo isso ou aquilo... mesmo não sendo exatamente aquela que um dia eu quis.
É tempo de sonhar. De aceitar. De não parar de lutar.
É tempo de agradecer às derrotas diárias. Fazer amizade com elas, pra que assim elas se amenizem e ensinem. Fazer as pazes com os meus erros, porque todos foram impulsos de acertar.
É tempo de curar as feridas. De entrar na minha caverna e hibernar por horas ou dias. Metamorfosear minhas crisálidas. Mudar para poder nascer. Sempre outra, mas sempre eu
É tempo de aprender a respeitar as coisas certas. De melhorar a visão. Marcar uma nova consulta ao oculista, para quem sabe assim, ver de verdade o que é realmente importante. Renascer.
É tempo de admirar minha imagem no espelho. Deixar as rugas e o desassossego de lado um pouco. Exigir menos. Precisar menos das desimportâncias. Encontrar o meu êxtase na simplicidade. Fantasiar-me melhor. Despir-me melhor. Acreditar mais no que é bom. Ter mais fé que o novo que virá, virá melhor.
E rir. Rir muito. Rir incansavelmente.
E acreditar. Acreditar mais. Acreditar incansavelmente.
Acreditar que a vida trará recompensas.
É tempo de baldear e filtrar. É tempo de fechar os olhos para o meu antigo ser e num outro eu , acordar. É tempo de parar de chorar.
É tempo de nunca mais perder tempo com volúvel, com o passageiro. Porque o tempo é para as coisas eternas.
É tempo de destravar a memória.
É tempo de encantar o tempo. Ter o tempo em minhas mãos. E o tenho.
É tempo de abrir as minhas entradas, de achar as minhas saídas... aquelas que vão dar no infinito. Aquelas que são pulsação e vida. Aquelas que vibram. Aquelas que mudam, que carregam e guardam o meu destino.
É tempo de descobrir mais Eu em mim.

Van Luchiari

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