Todos os dias pela manhã ela acorda, pega o carro e vai trabalhar, no caminho a mente imagina, as idéias se espalham, as questões aparecem... A janela aberta com o ar circulante é o que a mantém acordada, quando isso acontece, parece que a mente fica mais limpa, a força que o vento deixa libera os pensamentos de palavras e dúvidas que atravessam. Ultimamente está mais confusa, não consegue definir sentimentos, e a necessidade de fazer isso é quase obsessiva. Ainda mais quando o ímã da vez é o mistério em forma de gente... Gelado e quente... Demonstrações de afeto e indiferença... Se ao menos pudesse ir trabalhar sem se atordoar, sem a impaciência dos que esperam sempre muito. O tempo, as datas, tudo isso não existe. A boca fica seca, esta mesma, sempre tão urgente, com fome na alma. E o seu querer não tem a calma de esperar a suposta hora certa. É sempre na hora errada, nas horas erradas, assim, no plural. Tem vontade de escrever tudo num papel, mas não trouxe nada de importante na bolsa. No último conselho, lhe disseram que se não morrer jovem, ainda tem uns bons sessenta anos pela frente. Quando se lembra disso, sorri, por um segundo se esvazia da ansiedade que a tomava, mas logo volta ao seu normal. Lembra-se que pensar sempre positivo é algo que ainda está aprendendo a fazer, o que é um fardo. Ainda assim, não há nada melhor a ser feito, não há nada a perder tentando. Tentar. Atentar. Mais um sorriso, pois hoje lhe disseram que pessoas como ela não vivem muito, coração sempre “dançando”. Mal sabe ela que quem vive assim, vive. No ouvido, ouve a música que ouviu junto. Os primeiros momentos foram cheios daquela alegria adolescente, que só quer estar junto. Pensar no depois é muito aflitivo, aí se lembra daquela técnica de concentração que aprendeu certa vez... Ótimo. Pega uma bolacha e engana o frio no estômago. O céu lá fora está com nuvens, à música no ouvido está chamando, a semana, à noite, e tudo o mais que ali dentro passeia, está só começando... E ela sente cada vez mais fome... Fome de tudo, Fome de Vida!
By Flor
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