“Eu sei a palavra que você deseja escutar”
Adoramos acreditar que sabemos o que o outro quer. Tratamos as pessoas como segredos a serem desvendados e buscamos padrões de comportamento que as definam. Enchemos a boca para dizer: eu te conheço, eu sei como você reage, eu sei o que você deseja. Nos relacionamentos amorosos isso é ainda mais forte. Muitas vezes acreditamos conhecer o parceiro tão bem que nem falamos certas coisas, deixamos de perguntar, tudo por acreditar que já sabemos o que virá do outro. Mas será que isso é verdade? É claro que ao conviver com alguém adquirimos um saber sobre aquela pessoa, afinal nenhum de nós é lá muito original, nossas neuroses estão sempre às voltas com o mesmo ponto e dificilmente nos afastamos dele. Mas isso não significa que não há possibilidade de algo diferente surgir. Se dizemos “você pode se abrir comigo” estamos arriscando esse improvável, e parece-me que por medo dele acabamos dizendo muito mais Eu já sei o que você está pensando. Talvez por crermos que se conhecermos o outro suficientemente bem poderemos nos proteger. O problema é que esse conhecimento pleno do outro também é o que atrapalha. O saber entope as veias do coração e de repente ele para de bater. A ocasional taquicardia de esperar uma resposta, uma palavra, uma atitude do outro é o que dá ritmo a um coração apaixonado. Imaginar que sabemos o que o outro quer é quase inevitável, tão forte a nossa tendência a valorizar o conhecimento. Mas o saber necessário para fazer um laço com o outro não é sobre ele, não é antecipar suas respostas nem ter certeza de suas atitudes. É saber estar junto sem saber.
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