Desde o início dos tempos o homem é considerado “o chefe da família”, o provedor, aquele de quem se espera a segurança, o suprimento, o porto seguro. Claro que os tempos mudaram, que hoje as mulheres assumiram (ou tentam) seu papel de igualdade, sua postura e sua independência.
Acontece que essa trajetória é muito lenta, gradativa, iniciada pelas categorias sociais de nível de escolaridade dita “superior”.
Nas classes mais baixas e nas bem mais altas, as mulheres ainda se sujeitam a atitudes de passividade, ou apenas de “ajudantes” no orçamento doméstico. Ficam satisfeitas com a condição de “donas de casa” e “mães”, como se isso fosse uma profissão. No fundo, se entregam a árduas tarefas de agradar e garantir um lar aconchegante e receptivo para o “homem da casa”.
Tudo bem, nada a opor, se isso for uma decisão de comum acordo, porém, na maioria das vezes, isso implica numa ausência quase que constante desse homem do seu lar.
Com o custo de vida cada vez mais difícil de administrar, o orçamento ficar apenas nas mãos de um só numa família por vezes numerosa, implica em aumento do número de horas ausente do lar, em muitas delas para tentar um “bico” para garantir sustento dos seus.
Aí, esse homem batalhador, forte, determinado, fica cansado, carente, sem disposição para discutir assuntos pertinentes à sua própria família. Ele quer mais é comer, dormir, relaxar. E chega em casa e encontra a esposa ansiosa por carinhos, por atenção, por se sentir amada. Encontra os filhos querendo mostrar o que fizeram na escola, o que já sabem, o quanto estão progredindo. E ele quer assistir àquele jogo de futebol, ou ver aquele filme que esperou a semana toda, bebendo sua cervejinha, ou um café gostoso e fresquinho. Mal se aconchega, o sono vem, independente de sua vontade.
E ele perde olhares, insinuações, o calor do corpo amado, dias de sacrifícios para que ela se mostrasse mais magra e desejável. Perde a visão da lingerie nova, do novo corte de cabelo, da nova cor do esmalte. Perde a sensação dos lençóis perfumados com alfazema, a maciez da pele hidratada com creminhos, a lassidão daquele vulcão a ponto de entrar em erupção.
Curioso é que ele passa o dia desejando essas coisas, que observa nas mulheres com quem trabalha ou que repara pelas ruas. Ele as vê, as mede, as compara. Sempre chega à conclusão que nenhuma substituiria a sua, a escolhida, mas a elas ele mostra o homem sensual, o amante ardente, o bem-humorado executivo ou liberal, ou funcionário, sempre disposto a escutar ou a dar uma opinião e conselho útil.
Então, por que não quando chega em casa?
Por que não se guardar e mostrar àquela eleita que o espera em brasa no lar?
Por que não compartilhar das alegrias e decepções que a vida se nos impõe?
Talvez a resposta não esteja nele, e sim nela.
Talvez ela não seja essa maravilha preparada para o amor que desfiei em tantas linhas.
Talvez ela não tenha percebido que, embora ela se canse tanto ou mais que ele no trabalho doméstico, ela esteve ali, poupada das competições, aporrinhações, pressões que o trabalho proporciona. Ela estava em casa, na companhia dos filhos, preparando o lar.
Talvez ela tenha esquecido a sensualidade, a maneira de se aproximar, de se insinuar, de se mostrar com desejos, de tomar a iniciativa, de ser criativa, de esperá-lo de forma especial, envolta em véus de mistério e paixão.
A menos que não haja interesse pela manutenção do casamento, ambos deveriam tomar cuidado com essa ausência. Há sempre o risco de se acostumar com a ausência e se buscar locupletá-la em outros endereços, tanto para um quanto para outro (e que eles não se enganem, achando que a santinha do lar não tem tesão).
Cabe a ambos mudarem a rotina do descaso, atraírem um ao outro, como nos velhos tempos. E aquelas antigas fórmulas ainda valem, como mandar as crianças para a casa dos avós ou tios, dar folga a empregada, preparar jantar à luz de velas, com música e decoração especiais. Flores fora de hora, bilhetinhos apaixonados e (pq não?) obscenos, estrear novas peças íntimas (ambos), usar um perfume sensual, preparar o leito daquele jeito...
Não há receita para acabar com a solidão a dois. E nem sempre a cama é resposta aos problemas. Nesse caso, uma conversa franca, com esclarecimento dos pontos, quem sabe? Não acredito muito nessas conversas cara a cara, pq já se vive a situação de longa data, quando a solidão começa a pesar. Portanto, tratemos de dar vazão aos caprichos do amor e do sexo, e assumir uma posição de companheiros, de cúmplices e de amantes.
O homem ausente só é realmente ausente se sua companheira não estiver presente, dividindo com ele as tensões, as responsabilidades e a cama.
E atenção, homens ausentes! Essa mulher só se fará presente e sedutora, se estiver feliz em sua condição de mulher e parceira, se sentir que seu espaço é dividido igualmente, se perceber que ainda é sua amada e única na “selva escura e desvairada, para viver um grande amor” (como bem o disse Vinícius de Moraes.
Lilian Maial
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