sábado, 13 de agosto de 2011

Do que passa...



Eu poderia ter escutado melhor o silêncio enquanto você passava e calava sob mim. Poderia ter repousado sim, mais vezes, os meus dedos nos teus olhos. Ter dado dois passos e encostado meu ombro no teu choro. Eu poderia. Poderia ter virado o lado do rosto, acolhido a sua dúvida, alongado a noite. Poderia e iria entender o teu mundo até quando houvesse um nós brindando possibilidades.

Eu poderia ter levado o meu meio com a gente até o fim. Ter sido só começo, ali, na orla do seu amanhã que ainda tem a mesma cara de hoje e de sempre. Dosado as palavras, adoçado a poesia ao teu modo e encanto, eu poderia. Ter olhado no momento certo em que você também olhava pra si. Ter sentado, esperado, amanhecido. Ter cantado a minha vontade novamente mesmo depois de ter esquecido a letra.

E não sei se você entende, se você sente que eu ando complicando demais minhas escolhas, que de tão inusitadas e bobas, me fazem de qualquer coisa. Então acabo leve. Breve. E carrego no rosto um sorriso quase derradeiro. Deixando passar, duro só o bastante. E aquele instante que poderia ter parado ali pra todo mundo ver, fica atrás de mim, longe de tudo.

Acho que é por isso que alguns encontros vivem partindo. É que às vezes custa muito agarrar um caminho no colo e decorar todos os tetos de sonhos quando o agora não tem a intenção de morar.

Priscila Rôde

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