sábado, 30 de abril de 2011

O retorno...



Era eu entre aspas. Sugada pelo susto para dentro do mudo retrato... Recolhendo despedidas com os dedos.
Eram os minutos desmaiando sua lâmina afiada pelos meus pensamentos plantados em algum lugar no chão, fatiando a memória como se eu tropeçasse no pretérito de minhas anêmicas lembranças.
Era eu flutuando no ar feito partículas dissipadas sobre o instante...
Era meu coração recortado... Como se fosse apenas uma silhueta vazada por onde o vento cortava caminho. Era eu página virada. E os pingos de chuva franzindo a imagem pintada nas poças dos meus olhos. Era eu chutando sonhos esfumaçados que brotavam do asfalto quente...
Por dentro, o eco. O retumbar fugidio de quem viveu de palavras e as recebeu nunca, que perdeu o paradeiro de uma caneta seca de nada sentir e sentia enfim... Era a alegria tumultuada de quem sorri como uma borboleta que se entrega sem resistência ao abraço do vento, salva da neutralidade ou de qualquer sentimento rasurado.
Eram as palavras escapulindo afoitas do meu peito. Logo eu, a mulher mais fraca que já conheci, que espiava fantasmas escondida por dentro dos olhos, agora arrancando letras soltas do meu piano de contar. Era eu, aureolada pelo verbo que dependurava em linhas eternas as sensações de apenas um segundo. A visão, este conto contado pelos olhos. Foi demais para mim.
Pois há esta desmesurável chance em minha escrita. Esta contradição que rompe com flores o véu do silêncio.
Era eu sem mais temer a descontinuidade das coisas.
A cada palavra que se completava no papel, um pedaço que faltava, colava-se novamente ao coração.


Quando a dor se aproxima
fazendo eu perder a calma
passo uma esponja de rima
nos ferimentos da alma.
O espetáculo não pode parar...
 
Cordel do Fogo Encantado



Texto de Zizi - Blog Um toque de vida

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Personare

Seguidores