terça-feira, 19 de abril de 2011

Fragmentos...



A vida é feita de fragmentos… pedaços de existência, de lembranças, de gestos, de sins e nãos, de começos e fins. Cada história pessoal é a história da humanidade inteira contada a partir de um ponto de vista. Experiências plurais vividas de maneira singular, única, particular.
E a mecânica da vida se repete. A constância dos movimentos constrói a rotina. No tic-tac do relógio, a espera pelo que já foi ontem e será amanhã e no outro dia e no outro e no outro, se repetindo… e de novo, outra vez…
A inconsciência do gesto constrói a redoma que aprisiona o pensamento, o questionamento, a dúvida, a reflexão. E o cotidiano se enche de tédio. Onde está a alegria? Onde está? Onde está o gozo, o prazer, em meio a essa agonia que é viver?
A vida é só nascimento e morte? Viver é inflar os pulmões e contrair os músculos? Ou é mais que isso?
Viver, na verdade, é tirar a vida para dançar. É perguntar, é descobrir, é ser. E cada questão é um passo para a consciência de quem sou eu. Mas quem eu sou se, ao me olhar, encontro medo e trauma?
É preciso nascer. Abandonar o conforto do últero para se lançar na escuridão que a luz provoca. Respirar, vencer a asfixia do pensamento. Deixar soprar vento novo em minhas entranhas. Fazer explodir em vida o meu morrer de cada dia.
Ainda que não queiram ver, sou o que sou. Virá à tona a verdade que manipulam e tentam esconder… ainda que não queiram ver. Serão cegos sozinhos, pois que minha história, em fragmentos, se reagrupa na memória do que sou. A linha do tempo, que perpassa meus sentidos, costura os retalhos da minha existência, corrige as fendas da minha vida. Sim, sou eu, posso me reconhecer nessa criança, que a passos lentos se aproxima de si mesmo.
Como num quebra-cabeças, vou juntando peças, reunindo detalhes de mim mesmo, perdendo-me e encontrando-me no mural de fotos das minhas lembranças. E nessa dança, passado e presente se encontram, se abraçam, se contorcem em movimentos cálidos.
E tudo faz sentido quando o sentido não sou eu, quando o barro se rende e aquilo que sou vira vaso nas mãos do Oleiro. Quando o artesão da vida vai tecendo, fio a fio, a história humana, descubro que cada fragmento faz parte da mesma obra e que a minha vida também é parte da sua.


Alexandre Santos

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