sábado, 30 de junho de 2012

Ode branca ao chão furta-cor...



Sempre fui feita de nuvens e altos vôos...
O chão me limitava... era-me duro, frio...
Sempre preferi os ares
Até que cai de uma altura considerável...
Fui perdendo altitude e enfim, a queda. E por fim, o chão.
Doeu... doeu muito...
E só havia o chão. O frio e o escuro.
O escuro. E por mais escuro que fizesse mais escuro se fazia.
Era tão longa a noite. E tão longe o dia. Era tão além o céu.
E o chão me doía. E do chão mal se via a irradia luz das estrelas...
E eu chafurdei no chão...e chafurdei na dor.
Tive que me resignar ao chão.
E esperar a noite passar.
E a noite foi longa e cega...
E o único som que havia era dos meus soluços...
Foi tanto tempo no chão que os soluços se transformaram em murmúrios e depois em apenas sussurros...
Até que veio a calmaria...o silêncio...
E mesmo no escuro eu comecei a furar a tela desse quadro sinistro e emaranhado.
E o fio foi bordando estrelas na noite com um tom de ousadia.
E das lágrimas que rolaram produzi poemas e canções.
E eu cantei... uma canção desesperada e dilacerante.
Uma canção que me gelou os ossos.
Até que o cansaço foi mais forte.
Ameaçou. Mas, não raiou o sol.
Era a hora mais escura. Aquela que antecedia o dia...
A mais escura... A lua brilhou menos... as estrelas tecidas, empalideceram.
Mas, ao longe os pássaros começam a cantar...
Era a cotovia... a mesma que séculos antes levou Romeu dos braços da amada.  
Era a cotovia... não o rouxinol. 
Era a cotovia se redimindo e me trazendo de volta. 
E eu sorri.
E depois da última travessia para longe do medo e da agonia,
A noite terminou...
E a manhã nasceu limpa.
E no chão... 
Havia flores...
Borboletas,
Árvores,
Havia pedra,
Grama,
Formiga,
Orvalho,
Vida...
E eu sorri novamente...
E eu olhei pro céu... e vi que o havia superestimado...
E o ar não foi suficiente...
Era lindo... era azul... Mas, não dava pra me apoiar nele.
Aqui do chão, com tanta coisa vibrante, aconchegante e viva, eu me sentia segura... o céu ficou sendo só uma recordação... algo para ser guardado, e de vez enquanto, lembrado com um leve sorriso de satisfação... não como algo arrancado, mas, como renunciado por amor... Renunciado por ser a melhor escolha, renúncia que depois de um tempo vira calma.
E o chão hoje não me limita.
O chão é o que me sustenta.
E eu sei da marcas das minhas asas...
E eu sei da estrada e das pedras...
E eu sei das flores... e das cores...
E eu sei dos meus pés e do caminho.
Ainda preciso descobrir tanta coisa aqui no chão
Para poder ir visitar o céu de quando em vez.
Para poder reaprender a voar.
E foi assim,
E eu que era apaixonada pelo céu
Passei a amar o chão.


Lia Araújo


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