segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sobre coisas que a gente demora um tempo para aprender ou nunca aprende...


Você não vale um poema. Um verso. A rima imperfeita. Uma letra para a melodia repetida no silêncio. Não vale. Você não vale a madrugada perdida. O amanhecer no sofá. A febre. O vômito. O grito. Uma foto rasgada. Um diário queimado. Os cabides quebrados. Não vale. Você não vale o corte riscando o pulso. Um punhado de remédios. Os discos tristes. Um solo de sax. A mão por horas sobre o telefone. A espera. Um carro no poste. Um soco na parede. O vaso jogado no chão, você não vale. Não vale um espelho trincado. O copo atirado. O gemido atravessando a cidade. O palavrão. Não. Você não vale o tempo perdido. A teimosia da busca. Mas eu lhe procuro. Ainda. Eu escrevo versos. Faço poemas. Eu amanheço na febre. Acelero contra o muro. Ouço discos riscados. Engulo comprimidos em punhados. Eu vomito. Você não sabe, não imagina. Mas eu não aprendi. Eu ainda faço tudo por alguém que não vale nada.


Eduardo Baszczyn


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