Hoje eu acordei pra você. Acordei pra te fazer perder e me achar à frente. Eu me pintei de cores de seduzir suas pernas nas minhas cadentes de te fazer cair do rebolado. E me vesti de amores pra te prender no meu peito, mesmo que você, meio sem jeito, se prenda nos arames do nosso medo inconstante. Coloquei imãs na pele pra te atrair à minha parede carne quente do seu calor sensível. Corei o hálito do sabor do seu desejo que só quer o meu desejo, mas não sabe me dizer. Eu te beijo. Com a mesma boca que despertou pro seu sabor, que sente falta da sua língua e que passeia pelo seu pescoço sem medidas. Nesse nosso ritmo descompassado, com esse sentimento velado, eu só quero te seduzir com aquilo tudo que você quer ser seduzido no meu corpo. Não quero mais saber dos nossos amanhãs, eles já me fazem mal. Não quero te dar importância. Quero esquecer seus números, suas mãos e sua cor. Não quero lembrar da sua pele na minha e das matizes inebriantes dos seus olhos-estrela. Mas eu quero imprimir na ponta dos seus dedos todas as impressões perdidas na minha digital. Hoje eu acordei pra você. Hoje eu decidi não te perder. Mas a chuva desfez meus planos. Borrou meus desenhos cor púrpura, desfez meus laços, molhou meus sapatos. Hoje eu acordei pra você. Mas o mundo dorme lá fora.
Clarice Carvalho