quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O ser humano sofre por não saber sua própria importância...



O teatro já estava quase todo às escuras, com as últimas luzes se apagando lentamente, restando apenas uma difusa claridade no palco, onde os músicos terminavam de guardar seus instrumentos. Era o final de mais um concerto.
O violino, ao ser guardado na caixa com cuidado e atenção, começou a meditar, um pouco irritado: "Pronto! Lá vou eu outra vez! Como todos os dias, de cima pra baixo, fechado na maletinha, balançando pelas ruas e, o pior, ouvindo os horrendos sons da cidade. Uma verdadeira tragédia para minha sensibilidade, fora a poeira e as sacudidelas que, combinadas, desestabilizam minhas sensíveis cordas. Ah! Por que fui feito tão pequeno e leve? Por que não sou o piano? Sim, o piano, tão imponente, tão importante, tão lindo na sua imensidão negra e brilhante. E quando ele sai, então? Vem um carro especial, só para ele, tão fechado que ele não precisa ouvir os sons da rua. Pessoas o cercam e ficam olhando seu embarque com admiração. Ah! Como eu queria ser o piano!
"Na escuridão do teatro, agora já vazio, o piano também deplora sua situação, e reflete com tristeza: "Por que me fizeram tão imenso e pesado? Por que não sou leve como o violino que, colocado na sua maletinha, vai e vem, todos os dias, podendo sair daqui e ouvir os inspiradores sons do mundo? Eu fico sempre aqui parado e não ouço nada, além do burburinho do ambiente. Quando, enfim, saio, as pessoas param em torno de mim e ficam me observando enquanto sou colocado e bem amarrado num carro especial, tão fechado que não capto um som de fora. Ah! Como eu queria ser o pequeno violino!
"Assim, ambos continuaram noite adentro, com seus sofridos pensamentos, sem se dar conta de que seu verdadeiro papel é a interação, é o tocar juntos para fazer a harmonia no todo, pois o importante é a harmonia, a beleza dos sons combinados, sendo o conjunto, construído como é, que determina a beleza do resultado.
Da mesma forma, muitas vezes o ser humano deseja ser diferente do que é, e fica infeliz com sua situação, sem conseguir definir um papel na vida, distanciando-se da boa convivência com os demais, deixando de interagir e se cobrando à procura de uma forma diferente de ser. Ele sofre pelos rumos que sua vida toma, sem perceber seu valor e sua importância na corrente da vida, para onde se vem com um rumo certo a ser tomado.


Marina Gold

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