quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Cala a boca coração...



Estou contando as horas pra calmaria chegar, faz tempo que estou contando e não me canso, não me vejo a cessar, ainda estou com frio e molhado ainda sou, toda noite acordado pelo pecado, eu sei que você poderia me dizer muito, mas eu prefiro tapar os meus ouvidos quando você fala, eu prefiro esquecer que você existe, por mais que isso seja impossível.
Você sempre sorridente vem me dizer o que devo ou não fazer e quando vê minha reação esquece o teu sorriso se pondo aos prantos, mas de que adianta ter o prazer de chorar, se não tem a calma de agir, de que adianta ser tão grande, se o medo te diminui a cada dia, reduzindo também a suas vontades e por assim dizer, levando ao delírio a minha mente. Eu fico aqui te olhando encolhido e reparando no quanto é insistente, no quanto bate na mesma tecla, vejo que seu compasso e descompassado e sem nexo, que seus gritos são baixos, tanto que eu quase me esqueço de ouvir e enquanto caminho, marcando com os pés a areia salgada da praia, uma pequena chama vai se apagando dentro de mim, bem perto do cantinho que reservei pra você, dentro do peito. Mesmo assim os finais da onda que vai tocando aqueles pés os empurram e fazem andar a praia inteira, como se ela não fosse acabar eu me esqueço até de distinguir o asfalto quente, daquela areia que acabei te lembrar. E como tudo podia ser verdade, como o sol podia ser tão claro, como a noite tão estralada, como a brisa podia me acalmar e o vento deixar de me assustar, mas não, eu insisto e peco ao alimentar esses sentimentos em você, deixo de te ligar a mente e sempre acabo limpando os mares que ponho pelos olhos, por sua causa, causa minha, causa nossa. Então cala a boca agora, sua inutilidade me enoja me enraivece, me faz pensar ainda mais em fazer-te calar a força, por mais que isso doa, ou possa me ferir, eu não quero te escutar, não quero que você me guie por onde os apaixonados sempre andam, por entre os espinhos, deixando as pétalas para os cafajestes sem amor, deixando a glória em poder da mentira, a paz nascer dos fracos, porque eu tão forte não posso te dominar, enquanto minha alma queima por te amar, por te deixar viver.
Com essa indignação eu ainda estou contando as horas, precisaria de mais ponteiros, mas me contento só com três, o bastante é pouco pra mim e como dizem, nem que eu te desse a lua você iria deixar de desejar as estrelas, ou nem que eu te desse as estrelas você ia deixar de querer o céu, na verdade não dizem isso por ai, mas digo por aqui, onde você é minha única companhia e o pior, é que culpa minha, culpa sua, ou sei lá de quem é a culpa, dane-se a culpa, porque ela não mora no mesmo lugar que você, ela simplesmente é o lugar em que você mora, pois quando eu a mandei de volta para pra mentira, esqueci que não poderia enviar o remetente, agora toda noite quando a janela me mostra o que eu estou perdendo da vida, ela vem, entra pelo vão que existe em você e não quer mais sair, não quer me deixar, então Coração cala a boca, fica quieto, me deixa te apertar quando doer, me deixa chorar quando sofrer, porque hoje é você e eu e todas as pessoas, com nada para fazer, nada para perder e é você e eu e todas as pessoas e eu não sei por que não consigo tirar meus olhos de você.


J. Blanca...

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